Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Kapitel CXVII – Telas e Trilhos

Falta pouco tempo para eu voltar para o Rio. Dizem que brasileiro deixa tudo para última hora. Não é que seja o meu caso, pois acho que fiz muita coisa ao longo destes seis meses, mas de fato estou mantendo um ritmo alucinante de atividades nesta reta final. Dois dias depois que voltei de viagem da Bélgica, fui comer um Spätzle e tomar uma cerveja com o Jens, em um bom restaurante no bairro de Bockenheim.

No dia seguinte, fomos ao bar Wirtschaft, também em Bockenheim, ver o jogo entre o Hannover 96, o time dele, e o St. Pauli, equipe alternativa e proletária da cidade de Hamburgo. Dois a zero para a equipe marrom do St. Pauli, que era visitante. Apesar de minhas simpatias por ela, eu preferiria outro resultado, já que se tratava do time do Jens. Em seguida, fui diretamente ao Balalaika, o bar musical do bairro de Sachsenhausen, para me encontrar com Gilberto e Letice. Coincidentemente, cruzei no meio do caminho com Lara e Xenia, assim que atravessei a ponte sobre o rio Main. Elas iam a uma festa. Nós nos despedimos mas a festa delas não estava lá essas coisas e, mais tarde, não é que elas também apareceram no Balalaika?!

Um dia depois, sábado, fui à casa do Gilberto e da Letice, onde assistimos a um filme brasileiro: “Árido Movie”. Ele comprou um projetor e um telão, e foi ótimo ver a imagem como no cinema. Foi bem legal também reencontrar Felipe e Fiorina, que também foram. E isso tudo regado a vinho.

No domingo, dia da votação, Gilberto foi ao consulado exercer seu dever cívico. Eu não pude votar porque não transferi meu título, já que queria poder dar meu apoio à Dilma caso houvesse segundo turno. Depois, no entanto, eu e ele fizemos uma rápida viagem. Fomos a Fulda, cidade a menos de uma hora de Frankfurt.

Antes, na estação de trem Hauptbahnhof, foi engraçado ver torcedores do pequeno Energie Cottbus. Logo reconheci que era o time do meu amigo Bertram. Aliás, ele comentou que vários times do leste da Alemanha têm nomes típicos da cortina de ferro, como Energie, Dinamo etc. Aqueles torcedores, que gritavam muito com suas camisas vermelhas, estavam lá porque sua equipe foi a Frankfurt enfrentar o segundo time local, o FSV Frankfurt, em partida válida pelo seguinda divisão alemã. E, assim como o time do Jens, a equipe do Bertram também perdeu: 3 a 2.

Fulda é uma cidade bonitinha, apesar de pouco badalada. E impressionante- mente organizada para o turismo: há numeração para explicações em áudio em frente aos prédios históricos no meio da rua, tal como é comum no interior de museus. Além de charmosas casas antigas, e igrejas imponentes, há um belo castelo com um não menos bonito jardim em frente a ele. Infelizmente, como fomos tarde, começou a escurecer. Como a cidade é pequena, no entanto, acho que deu para ver tudo. Ficamos apenas umas duas horas lá e voltamos.

À noite, foi a vez de aproveitar uma promoção do serviço de trens alemão, que acabava naquele dia: passagem para qualquer cidade dentro do território alemão por apenas 20 euros. Comprei pela internet uma passagem de ida para Hannover, para ir com o Jens, que é de lá, e uma de volta de Hamburgo, que fica ainda mais a norte e eu querida visitar em seguida.

Na segunda-feira, recebi em casa Lara, Xenia, Lucia e Nikolai para vermos outro filme brasileiro, que acho que eles nunca teriam a oportunidade de ver de outra forma: “Cinema, aspirinas e urubus”. Antes, mostrei um curta-metragem alemão que venceu o Oscar: “Spielzeugland”. Depois, ouvimos músicas brasileiras de todo tipo. Foi divertido.

Quarta-feira, parti de viagem com Jens para Hannover. Também não é uma cidade badalada pelos turistas, mas tem muitos lugares interessantes. No imponente prédio da prefeitura, surpreendentemente tranqüilo em relação à vigilância, há quatro maquetes mostrando a cidade em diferentes épocas: em 1689, às vésperas da Segunda Guerra (1939), após ser destruída pelos bombardeios aliados (1945), e hoje em dia. Bem impressionante, mas não tanto quanto a igreja de Santo Egídio, que, quase toda destruída, não foi recontruída; mantiveram o que restou, como monumento à paz (semelhante ao que fizeram com a Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche, em Berlim; ver Kapitel XCVIII).

Vimos ainda um lago totalmente artificial, em frente ao qual está o estádio do Hannover 96. Visitamos a igreja protestante Markkirche, onde havia dentro uma exposição de arte moderna. Aliás, a cidade gosta de arte moderna, e três esculturas muito loucas – que são uma bandeira para as feministas – são um símbolo da cidade, quase tão importantes quanto o cavalo rampante e a dupla de leões que guarda a entrada de diferentes prédios públicos, como a prefeitura e a universidade. Almoçamos num bom restaurante grego, onde comi um ensopado de carneiro com um enorme feijão branco e vegetais. Para beber, uma cerveja escura tcheca levemente doce chamada Staropramen. Mais tarde, provei uma cerveja local, Gilde.


Achei bem bonita uma parte do centro da cidade cheia de prédios antigos. Jens contou que, nos anos 1920, era uma área caótica, com muita criminalidade, cheia de mosquitos, onde viviam as prostitutas e os marginais, por ser a área mais desvalorizada. Após o bombardeio da Segunda Guerra, toda a área foi devastada. Reconstruíram a região de uma forma totalmente diferente, com prédios em estilo antigo que só existiam em outras partes da cidade. Isso significa que o que existe hoje lá é artificial; mas levando-se em conta que é uma das áreas mais bonitas e que antes era uma das mais feias, acho que fizeram bem em não ser tão fiéis à arquitetura original.

Também lindo é o parque Herrenhäuser Gärten, dividido em vários subjardins, com chafarizes, flores e estátuas brancas, de frente para um palacete. É impossível visitá-lo e não pensar em Versalhes ou Fontainebleau (sobre eles, ver Kapitel XC). Pouco depois das sete, voltamos à estação de trem de Hannover, tomamos um sorvete e cada um foi para seu canto. Jens voltou para Frankfurt. Eu segui para Hamburgo, cidade que todo mundo elogia muito. É o ponto mais setentrional em que estive até hoje. Depois contarei como foi lá. E aí faltará apenas uma semana para voltar para a Cidade Maravilhosa.

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