Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Kapitel CIV – O Pacote pro Lugar

Nos últimos dias, vários problemas se solucionaram. Minha bolsa de estudos dos próximos três meses foi paga, o que significa que meus tempos de dureza na Europa acabaram. Poucos dias depois, fui avisado de que o dinheiro dos dois meses anteriores da minha bolsa, que não tinha ido parar na minha conta corrente, finalmente foi extornado (sobre o drama, ver Kapitel XCIV).

O dinheiro tinha sido depositado com o código IBAN errado, e, por isso, não foi parar na minha conta. O código foi fornecido em uma carta do Postbank para mim – não entendi por que colocam um outro código bancário que não o meu, sem explicar isso, justamente na correspondência onde me informaram o número do banco e da minha conta corrente. Eu não tinha por que deduzir que o código não era o meu e o forneci ao CNPq (só fui saber o código certo muito depois, quando fui reclamar no banco e o funcionário o buscou no meu cartão).

Depois vim a saber que cada cliente tem o seu próprio código IBAN – como não trabalho com isso, imaginei que o código era o mesmo para o banco todo. Alguém que lide com isso sabe que o final do código IBAN é idêntico ao da conta corrente. Logo, o pessoal da minha bolsa deveria ter percebido que o número da conta corrente e o IBAN fornecidos eram incompatíveis. Mas não viu, e enviou o dinheiro. O banco, por sua vez, recebeu o montante e não procurou saber de quem era. Eu receberia esse valor depois que o Banco do Brasil investigasse para onde tinha ido a quantia. Ou seja, houve um monte de trapalhadas, que fez com que minha conta ficasse zerada ou no negativo por meses. Mas isso é passado. O problema da minha bolsa foi totalmente resolvido!

Com isso, pude também efetuar o pagamento do curso de verão sobre partidos políticos que farei no próximo mês, na Bélgica. Outras complicações tinham surgido: em meio ao acúmulo de problemas que me assolou e com a perda do e-mail institucional @iuperj.br por causa da crise que se abateu sobre o lugar onde faço meu doutorado, acabei perdendo o prazo para a inscrição em um importante congresso no Brasil. Também já resolvi isso, paguei a inscrição e participarei normalmente do evento. Outra encrenca solucionada foi a do banco, que finalmente me devolveu o dinheiro descontado por causa do envio do segundo cartão, apesar de eu não ter chegado a receber o primeiro (ver Kapitel LXXVIII).

Entretanto, é claro que esse ciclo virtuoso teria que parar. Há um problema que parece insolúvel: a péssima qualidade do correio alemão (ver, por exemplo, os Kapitel LIV e LXVIII). E ficou bem claro que o problema não é simplesmente do carteiro incompetente que entrega as cartas aqui na minha área. A ineficiência é muito mais generalizada. Vamos à história!

Encomendei dois livros na Amazon.de, para aproveitar os baixos preços do frete. Pensei duas vezes antes de escolher o endereço para postagem. Cogitei a possibilidade de pedir para enviarem para a universidade, ou de colocar o pedido no nome do Manfred, ou ainda de solicitar que o enviassem para a casa do Jens ou de algum outro amigo. Mas cometi o grave erro de pensar assim: “ah... eu recebi as últimas cartas, acho que devo dar esse voto de confiança, eles não podem ser tão incompetentes...”. Agora eu sei que podem sim!

Na sexta-feira, já estava quase pondo o pé na rua para ir ao correio reclamar que meu livro deveria ter chegado, quando Manfred me mostrou um site – DHL – onde podemos rastrear em que etapa está o envio de pacotes que encomendamos aqui na Alemanha. De fato, o meu ainda estava a caminho. Seria impossível, portanto, que o livro já estivesse em minha casa. O prazo para a chegada seria algumas horas mais tarde.

O fim de semana passou e é claro que, nesta segunda-feira, ainda não havia livro algum em minha caixa postal. Desta vez, não houve jeito: parti para o correio, para reclamar do mau serviço e, quem sabe, voltar com o meu livro (às vezes sou ingênuo, não?). Chegando lá, mostrei para o atendente que o endereço que forneci estava correto e que eu já tinha recebido outras cartas (logo, a culpa não era minha, mas do carteiro). Passei para ele o número do envio do pacote e ele verificou no sistema que, como eu temia, o entregador não identificou meu endereço como sendo meu e mandou o pacote de volta para a Amazon.

Eu disse, então, que não era a primeira vez que isso me ocorria, que já tinha perdido várias cartas por causa da incompetência do carteiro, que – não sei por que raios – ele não lê o meu nome na caixa postal. O funcionário me respondeu, então, que pacotes não eram cartas. Eu não entendi o que ele quis dizer com isso, e perguntei se eles não poderiam, pelo menos, reclamar com o carteiro, para que ele parasse de não entregar minhas correspondências. Aí, explicou-me que “infelizmente não”, porque os pacotes não são entregues pelo carteiro da região. Diferentemente das cartas, os pacotes são entregues a partir de outra sede dos correios, por outra equipe – quer dizer, no meu caso, eles não são entregues por outra equipe.

Fiz minha reclamação, o atendente preencheu o formulário e recomendou que eu mandasse uma mensagem para a Amazon explicando o que ocorreu e pedindo que me enviassem a encomenda novamente. Manfred me disse que os carteiros simplesmente têm dificuldade de entender o meu nome, que se eu me chamasse Wilhelm Reis (pronuncia-se “ráiss”, e significa arroz em alemão) seria mais fácil, mas que Guilherme Simões Reis, em português, é muito complicado. Ele revelou que a Janine, que mora aqui no apartamento, sempre se refere a mim como Wilhelm, porque acha “Guilherme” muito difícil de dizer.

É claro que tal explicação foi mais uma brincadeira, e que não justifica a incompetência do correio alemão. Tudo o que eu queria era que enviassem o pacote para o lugar certo! Manfred me deu algumas sugestões, como usar a caixa postal dele ou pedir que entreguem o livro na agência dos correios para que eu o pegue lá. Vou pensar em qual é a melhor alternativa e enviar a mensagem para a Amazon. Já sei que solicitar que mandem o livro para minha residência novamente não é uma alternativa muito confiável. O pior é que isto foi apenas com o primeiro livro, pois o outro ainda deve ser entregue daqui a duas semanas... Será que em algum momento eu não terei nenhum problema aqui na Alemanha?

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