Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Kapitel LXXXIX – A Corrida para a Luz

O domingo começou com fortes emoções. Acordei cedo, para não haver risco de me atrasar para o trem rumo a Paris. Mas queria aproveitar os últimos momentos de internet gratuita no albergue. Então, respondi e-mails, pesquisei a localização exata do prédio da minha amiga Joana, onde eu ia me hospedar, e esvaziei as fotos da câmera. Saí tranqüilo, comprei uma garrafa d´água, um croissant e um pain au chocolat e fui caminhando rumo à estação. De repente, ocorreu-me que eu estava fazendo uma confusão: o trem chegaria a Paris às 14h40 e não sairia de Toulouse às 9h40; sairia às 9h22! Logo, eu estava, sim, atrasado!

Comecei a correr desesperadamente. Não há táxis andando por toda parte em Toulouse, como há em outras cidades. Foi preciso um esforço hercúleo para correr metade do caminho com um mochilão pesadíssimo e uma bolsa com quase um litro de água, um laptop e dois livros.

Cheguei à estação às 9h25, ouvi um apito, corri na direção, vi uma porta aberta, entrei e perguntei: “À Paris?” Sim, era o meu trem. Partiu menos de um minuto depois. Ufa! Eu me senti o próprio Indiana Jones. Levei tempo para parar de suar e respirar normalmente de novo. Li um pouco, dormi muito, e cheguei à cidade-luz. Precisava telefonar e só conseguir achar um cartão de telefone com 120 créditos. O que vou fazer com 120 créditos?! Assim, o dinheiro vai embora.

E vai mesmo. Paris é muito mais cara que Toulouse, que é muito mais cara que Frankfurt. Fui provar o crêpe (pedi um doce, de licor Grand Marnier) e, sem recheio algum, só massa, era quatro euros. Depois de comprar o crédito e não conseguir telefonar, fui procurar no mapa a localização e constatei que a Joana mora razoavelmente perto da estação de trem de Montparnasse. Desisti do metrô e fui a pé mesmo. Para quem correu com a mochila, essa caminhada seria fichinha.

Ao chegar ao prédio, fui pegar a chave com a vizinha, conforme o combinado. Pois se existisse uma copa do mundo de vizinhas simpáticas, dona América seria seriíssima candidata ao caneco. Cubana (mas com sotaque compreensível, pois não fala correndo como os cubanos em geral), casada com um francês, mãe de um egiptólogo e moradora de Paris há meio século, ela é incrivelmente gentil e prestativa. Não bastasse ter ficado à disposição para me dar a chave, deu para mim também um mapa de Paris, me mostrou a localização dos lugares e as linhas de metrô, e ainda ofereceu cafezinho. Apesar de nunca recusar café, abri uma exceção, pois já estava com vergonha.

Parti, então, para minha primeira exploração de Paris. A ideia era atravessar os Champs-Élysées, mas, saltando na respectiva estação de metrô, andei para o lado errado. Os Champs-Élysées ficaram, portanto, para o dia seguinte. Conheci o rio Sena, o Jardim das Tulherias, a Assembleia Nacional, a praça da Sorbonne, o Louvre (só o exterior e a parte central interna, pois as exposições já estavam fechadas), entre outros lugares. A Torre Eiffel eu vi de longe, de vários ângulos, tanto de dia como, iluminada, à noite.

É interessante como Paris, Toulouse, Bordéus/Bordeaux e Carcassonne são cidades totalmente diferentes. Enquanto Paris tem prédios grandes como uma grande cidade, mas tem espalhados pela cidade muitas grandiosas obras arquitetônicas evocando às antigas civilizações e outras aos heróis da Segunda Guerra, com muito branco e dourado, Toulouse se caracteriza pela simplicidade, com um ar simpático de tudo o que imaginamos ver em uma antiga cidade francesa. Carcassone, por outro lado, preserva ao máximo uma atmosfera anterior, medieval, enquanto Bordéus também tem grandes espaços e grandiosidade, como Paris, mas é mais sóbria. Estou gostando de minha passagem francesa neste período da Europa.

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