Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


sábado, 3 de julho de 2010

Kapitel LXXXVII – A Realidade é Laranja

Esta sexta-feira era um dia que prometia emoções. O clássico entre Brasil e Holanda definiria uma das equipes semifinalistas da copa. Minha apresentação de trabalho no congresso em Toulouse seria entre sexta à tarde e sábado de manhã. Morri de medo de ser na hora da partida Acabou que foi marcada para o horário entre as duas e as quatro horas. Daria para apresentar e ver o jogo em seguida!

Com atrasos, pessoas falando muito mais do que os quinze minutos, e um comparecimento de todos os inscritos na seção (isso não aconteceu em quase nenhuma outra seção), o tempo passou e só pude apresentar bem tarde. Eu me saí bem, fiz a apresentação em espanhol, e o meu trabalho foi o que gerou maior polêmica, suscitando perguntas e dividindo a sala entre olhares entusiasmados de aprovação e não disfarçadas expressões de contrariedade. O mais pitoresco foi a presença, na sala, do segundo colocado na eleição para presidente da Colômbia, Antanas Mockus, que havia dado uma palestra pela manhã. Ele até perguntou para mim, após minha apresentação, como eu entendia o conceito de desmercantilização.

No intervalo, saí desesperado para ver o jogo. Troquei a camisa azul de pano de mangas compridas da apresentação pela amarelinha da seleção. Já havia perdido todo o primeiro tempo e logo soube que o Brasil ganhava por 1 a 0. Minha intenção de ir a um bar ver a partida foi pelos ares, mas eu tinha um laptop e o local do congresso tinha internet wireless gratuita. Combinação perfeita!

Conectei na transmissão francesa da partida e logo começou a juntar gente para assistir. Entre eles, Rodrigo, um chileno que estava no mesmo quarto que eu no albergue e, pelo que soube com ele depois, estavam também vários outros hóspedes, que eu nunca tinha visto. Logo arrumaram uma sala vazia do congresso para assistirmos. Um sujeito da organização tentou até plugar o laptop para transmitir a imagem grande, pelo projetor, mas infelizmente não funcionou. Todos torciam para o Brasil. Quando tirávamos fotos em diferentes câmeras, eis que a Holanda empatou, em uma incomum falha do goleiraço Júlio César. A fotografia que ilustra este Kapitel foi tirada segundos antes (mas a do momento do gol foi a da máquina do Rodrigo!).

A situação piorou com a virada holandesa e degringolou com a estúpida expulsão de Felipe Melo, que pisou um adversário. O Brasil está fora da Copa. Saí frustrado e voltei para o albergue. Comi um pouco de pão com patê (é o que mais tenho comido nos últimos dois dias, pois comprei no Carrefour uma mousse de foi gras e uma mousse de canard au Porto). Depois fui ver a outra partida do dia, pois o Brasil está eliminado mas a Copa do Mundo continua.

Fui ao bar argelino (ver Kapitel LXXXII), onde há uma tevê com a transmissão dos jogos e lá vi o primeiro tempo da excelente partida entre Gana e Uruguai. Enquanto comia um sanduíche da lingüiça árabe merguez e tomava dois copos do típico chá com menta argelino, vi o belo gol ganês e muito equilíbrio entre as duas equipes. No intervalo, até para fugir do calorão que fazia lá dentro (Toulouse já está um forno, imaginem dentro de um minúsculo bar onde há chapas esquentando sanduíches!), resolvi dar uma volta.

Andei em busca do ótimo bar em que eu tinha ido dois dias antes (ver Kapitel anterior), mas nada de achá-lo. Vi, ao longe uma torre de igreja, e resolvi ir até lá. Chegando lá. Pareceu-me uma igreja sem nada de muito especial, mas, prudentemente refleti: não devo fazer pouco caso dela, pois, de repente, ela é antiga para caramba. Não deu outra. A igreja de Minimes é do século XVI! Isto é Europa...

Andei mais, passei por criancinhas árabes com a camisa do Brasil, continuei em busca do bar Musical Ralimera, e o encontrei! Bebendo, mais uma vez, chope Karlsbräu, vi o segundo tempo, o golaço do craque Forlán, a prorrogação, o incrível lance em que Gana quase marcou duas vezes o gol mas os uruguaios salvaram na linha, só que o segundo deles com a mão, o pênalti no último minuto batido pelo ganense no travessão. Aí, na disputa de pênaltis, a fênix celeste acabou com a última esperança africana.

Se o goleiro de Gana tivesse assistido aos jogos do Uruguai, teria mais chances. Arriscou o canto e não defendeu nenhuma cobrança. Só que uruguaios – especialmente os defensores e à exceção de craques como Forlán – têm uma incrível tendência a mandar um canhão bem no meio do gol. É só o goleiro não sair do lugar que suas chances aumentam consideravelmente. Mas ele sempre pulou e Gana está eliminada. Para alegria de meus amigos uruguaios, a celeste olímpica volta a uma semifinal de Copa do Mundo. Pena que contra a Holanda.

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