Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

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domingo, 27 de junho de 2010

Kapitel LXXXII – Os Três Desejos

Está uma noite bem quente em Toulouse. Quando o avião se aproximava, perto das nove horas, o comandante disse que fazia trinta graus. E há também uma bela lua cheia. Não sei se tão bela quanto a moça que veio do meu lado no avião (mais interessada na revista de fofoca que estava lendo do que em conversar comigo...), mas definitivamente uma bela lua.

Do aeroporto, peguei um ônibus a cinco euros que me deixou perto do albergue. Mas encontrar a rua exata não foi nada fácil. É uma ruela pequena e estreita, aliás, como várias neste centro antigo. Mas, tanto quanto as ostensivas e persistentes ofertas dos vendedores de maconha no meio da rua, chamou-me a atenção a prestatividade das pessoas aqui.

Vi duas mulheres – uma delas mais velha, podiam ser mãe e filha – e perguntei a elas sobre a rua. Não sabiam, mas foram comigo até um mapa público. Como não aparecia a referência da tal rua, perguntaram no restaurante. Como ninguém sabia, aconselharam-me a ir até o Domino’s Pizza – e me mostraram onde ficava, é claro – e perguntar lá. Para completar, ainda elogiaram o meu francês. E ele é péssimo! Acontece que os franceses não estão acostumados a encontrar estrangeiros que se esforçam para falar em francês, de modo que, acredito, houve um misto de boa vontade com falta de base para comparação.

Peguei a indicação na pizzaria mas ela não adiantou muito. Logo, eu já estava perdido de novo. Aí, perguntei para dois sujeitos sentados em uma esquina – pareciam árabes. Como eles não sabiam, um deles entrou na loja, fez a pesquisa no computador e me explicou. Com toda essa boa vontade, nem alguém tão perdido quanto eu é capaz de não encontrar o albergue.

Já instalado, saí para comer alguma coisa. Estava roxo de fome. Um saquinho de biscoito e um sanduíche não estavam se mostrando suficientes para minha necessidade diária de calorias. Dei uma volta nos arredores e vi que estava terminando o jogo de Gana com os Estados Unidos. Não consegui assistir nada da Copa hoje, neste dia de viagens. Quando estava no aeroporto em Paris, vi uma camisa uruguaia em uma televisão. Depois, vi que Gana vencia os estadunidenses por 1 a 0. Quando cheguei a Toulouse, vi que o jogo estava empatado. Quando saí para jantar, Gana vencia por um gol na prorrogação, e eu assisti pela tevê ao apito final.

Mas a fome persistia, e eu segui na busca por um restaurante. Não faltam opções, inclusive muitos restaurantes indianos, marroquinhos, bares... Mas achei tudo caro. Faltam aquelas opções baratinhas para dar aquela saciada no final da noite, sabe? Todos os lugares não vendiam nada abaixo de dez euros. Acabei voltando para a única exceção: justamente o lugar onde tinha passado o jogo de Gana.

Era um restaurante argelino meio estilo fast food. Pedi um sanduíche de uma espécie de kafta (kefta, na grafia deles) na baguete. Aproveitei para provar também uma massinha empanada, cujo nome perguntei três vezes, mas não entendi direito (sfinx, stinfz, ou qualquer coisa por aí) e ninguém lá sabia me explicar como se escreve. Veio junto, de cortesia, um chazinho com folha de menta dentro. Soube que é a bebida mais tradicional da Argélia, e costuma ser servida para os convidados. Achei simpático o gesto. E o chá era bonzinho. O copo de metal me queimou a mão e não acho que seja a melhor forma de servir um chá quente, mas a bebida vera boa.

Dos três desejos, dois foram satisfeitos: albergue encontrado e fome saciada. Toulouse está quente, tem árabes à beça, mas não tem nenhum gênio da lâmpada. E se tem, ele não estava no voo da EasyJet de Paris para cá para atender ao meu primeiro pedido.

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