Minha conta bancária continua no negativo, porque minha bolsa de estudos está há dois meses atrasada e o dinheiro que o banco descontou por causa do envio do segundo cartão – o primeiro extraviou por culpa do correio – e disse que me devolveria não foi devolvido (detalhes da tragédia no Kapitel LXXVIII). Eu havia telefonado para o CNPq e tinham me dito que o dinheiro estaria depositado na minha conta no dia 28 (do mês passado! Já com atraso!). Eu estava na França e fui conferir minha conta alguns dias depois, já de volta a Frankfurt. Ao me deparar com a desagradável surpresa de que minha situação era a mesma do mês anterior, somada ao fato de que eu precisava pagar mais um aluguel, telefonei para o CNPq novamente.
A responsável pela minha bolsa me garantiu que, certamente, o dinheiro estaria na minha conta no início desta semana. Eu ainda perguntei: “Dia 12 ou 13, então, com certeza?”. Ela respondeu afirmativamente, mas é claro que, no dia 13, não havia dinheiro algum. Assim que cheguei em casa, telefonei novamente. A responsável pela minha bolsa disse que ia falar com o setor financeiro e pediu para eu telefonar cinco minutos depois. Esperei doze e liguei. Ela não estava. Perguntei se tinha ido embora ou apenas dado uma saída. Não sabiam responder com certeza mas sugeriram que eu telefonasse um pouco depois. Fiz isso e me responderam que ela tinha precisado sair um pouco mais cedo.
Não é incrível? Disse para eu ligar um pouco depois e se mandou! A situação continuaria bizarra. Expliquei para outra pessoa a minha situação e ela me passou para a chefa deles. Alguém atendeu – suponho que a chefa – e eu perguntei “com quem eu falo?”. Ela desligou na minha cara! Muito esdrúxulo! Telefonei novamente, um cara atendeu e me passou para uma mulher, que – enfim! – efetivamente me atendeu: ela não transferiu a ligação para mais ninguém, ouviu o meu problema, pesquisou o que estava acontecendo e ficou chocada com o tamanho da confusão. Explicou-me que o dinheiro é dado ao Banco do Brasil e que ele, então, envia a grana para os bancos da Europa e dos Estados Unidos onde os bolsistas têm conta. E o dinheiro, segundo constava lá, efetivamente tinha ido para o Banco do Brasil no dia 28. Só que, dezessete dias depois, não há nem sinal dele na minha conta. Ela disse que encaminharia naquele mesmo dia o problema para o setor financeiro, para que se investigasse o que havia ocorrido.
Só me resta esperar. De todo modo, mesmo sem dinheiro em minha conta alemã eu precisava pagar meu aluguel. Então, no dia seguinte – que foi ontem – eu fui ao banco perto da minha casa para pegar dinheiro da minha conta do Banco do Brasil. Eis que o caixa eletrônico do Kommerzbank me informou que eu não podia pegar a quantia que eu tinha pedido, mas que eu poderia sacar dez euros. Espera um pouco... o que diabos eu vou fazer com dez euros?! Comprar seis picolés? Fui hoje a outro banco perto da universidade e finalmente peguei o dinheiro para o aluguel.
Chegamos, então, à segunda parte da aventura. Na terça-feira eu havia tomado uma cerveja com o Jens na Bockenheimer Warte, perto da universidade, e, por isso, entrei na estação do metrô pelo outro lado. A estação de Bockenheimer Warte é peculiar, pois ela dá acesso a duas linhas que fazem o percurso leste-oeste e é também o ponto final da linha U4, que, diferentemente das outras seis linhas de metrô, faz um U em vez dos percursos leste-oeste ou norte-sul. Normalmente, pego o U4, pois também me serve e, a partir da entrada mais próxima da universidade, preciso andar menos lá dentro. Só que eu tinha entrado pelo outro lado e não me dei conta de que estava pegando a outra linha. Esta também me serviria, se não fosse pelo fato de eu tê-la pegado no sentido errado. Minha distração me tomou algum tempo mas também me levou a uma estação de metrô que me deixou intrigado: a Kirchplatz.
Eu nunca havia estado nessa praça, que, a julgar pelo tema das paredes da estação de metrô, deveria ter diferentes igrejas. Pensei: “hoje quero voltar logo para casa, mas, qualquer dia destes, volto aqui para conhecer esta praça, que deve ser interessante”. Resolvi fazer isso hoje. Saltei lá e fiquei olhando, como um bobo, para ver se via as igrejas. Só vi uma, nada de mais. Mas acredito que chamou a atenção essa postura de nunca-estive-aqui-antes-e-não-sei-para-onde-vou.
Um homem veio em minha direção e me chamou. Achei que iria perguntar alguma coisa; mas não exatamente... Mostrou um documento e disse que era da polícia, sendo imediatamente acompanhado por outro homem e uma mulher, todos à paisana. Falaram alguma coisa que não entendi, e retruquei interrogativamente: “desculpa...”. Ele respondeu um pouco mais asperamente e disse que queria ver meu passaporte.
Normalmente estou com ele e, por sorte, hoje não foi uma exceção. Mas não podia deixar de pensar nas vezes em que o deixei em casa, por não imaginar que poderia se passar tal situação. O cara olhou o passaporte e disse: “ah, é brasileiro!”. Naquele instante, achei que tinha sido uma interjeição neutra, mas pouco depois suspeitei que, nas entrelinhas, houve certa conotação não muito positiva.
Gostei da historia e amei o blog! Eles devem ter ficado com cara de ignorantes perto de voce! hahahahaah! Eles nao sabem que vc ta duro e sem um tostão e nem que vc tava mesmo meio perdido na frente da roda do carro, mas isso nao tem nada com a historia. O bom é que eles estavam doidos para chutar um cachorro naquele dia e voce mostrou o pedigree - hahahaha! Eles que arranjem outro para chutar! rsss. E espero que sua situaçao se resolva logo, senao teremos que fazer campanha aqui para enviar recursos para voce, no melhor estilo AJUDE UM PESQUISADOR BRASILEIRO A TERMINAR SUAS PESQUISAS NA ALEMANHA! ABX! Lucinha
ResponderExcluirHahahaha, obrigado, Lucinha. Quando a situação se resolver, eu aviso por aqui, hehehe. 8o)
ResponderExcluirBeijão