Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


sábado, 22 de maio de 2010

Kapitel LVI – O Som da Balalaika e o Focinho da Vaca

Após a aula desta sexta-feira, conversei com duas alunas do curso sobre política e sociedade no Brasil. Ambas estão muito interessadas em assistir a documentários brasileiros, para que a turma não fique apenas com uma ideia abstrata da realidade do Brasil. Uma delas é uma venezuelana chamada Maryhen , que se mudou para Frankfurt aos 9 anos com os pais, ambos então doutorandos em Direito. Ela se sente muito à vontade na Alemanha, que vê com seu país, mas fica ofendida se dizem que ela é alemã e não venezuelana. É claro que ela sempre será venezuelana para os alemães e sempre será muito alemã aos olhos de seus compatriotas. Ela pretende ainda voltar a viver na América Latina. A outra aluna era Lucia, aquela que estuda português. Fui com ela, em seguida, para o café da universidade, onde demos prosseguimento às nossas aulas poliglotas das línguas de Camões e Goethe (ver Kapitel LI).

Depois, encontrei-me com Jens e fomos até um bar ao ar livre perto da Bockenheimer Warte, pertinho da universidade, aproveitando o bom tempo que já está fazendo novamente por aqui. Experimentei mais uma boa cerveja escura de trigo, chamada König Ludwig. De lá, voltei para casa e tive a grata surpresa de receber a segunda carta do banco. Será que acabou a novela das minhas cartas (ver Kapitel LIV)?

Ao checar meus imêious, vi que meu amigo Vítor estava me chamando para ir a um bar em Sacksenhausen chamado Balalaika. Nós nos encontramos, então, na estação de metrô de Hauptwache, fomos até a de Südbahnhof, e comemos ali perto um shawarma (sanduíche árabe de carne de cordeiro, parecido com o kebap turco e que eu já conhecia no Rio). Foi minha primeira refeição no dia inteiro desde o sanduíche do café-da-manhã, pois eu estava totalmente sem fome ontem ao longo do dia. Em seguida, fomos à Balalaika.

Era um bar meio à luz de velas, estilo pub, onde os próprios clientes levam seus violões, gaitas ou o que quer que seja e fazem um som lá para os demais presentes. É um clima bem legal. A própria dona é uma coroa estadunidense, negra, de volumoso cabelo pintado de castanho claro avermelhado, que é cantora há várias décadas. Muito engraçada, ela também toca seu violão no bar e dá uns esporros naqueles clientes que conversam enquanto ela canta. Quanto à iluminação ambiente, Filipe, que chegou um pouco depois com a mulher dele, Fiorina, disse que a dona do Balailaika contou que, uma vez, um parente dela foi conhecer o bar e perguntou se ela não estava pagando a conta de luz.

Quando chegamos, a maior parte do tempo um grupo de amigos ficou fazendo um som, cuja qualidade não estava agradando muito a todos os presentes. Tudo mudou quando meus camaradas Vítor e Filipe pegaram o violão e tocaram junto com uma cantora paulista conhecida deles, Juliana. Os três arrebentaram, tocando vários sambas, músicas populares brasileiras, bossas-novas e outros sucessos de nosso país. Os caras que tinham tocado antes rapidamente foram embora.

Além deles, é preciso destacar também o excelente pianista romeno com cara de indiano Marius, amigo da Juliana, um outro estadunidense negro com um tremendo vozeirão que também cantava muitíssimo bem, e uns espanhóis que tocavam canções muito divertidas. O tempo passou e cheguei em casa ligeiramente tarde... Fui novamente dormir às seis da manhã! Vejamos a que horas durmo hoje, pois haverá um open-house na casa do Filipe, agora que a Fiorina, chegou para morar com ele em Frankfurt.

É claro que só acordei hoje lá para uma e meia. E só fui ter fome depois das cinco. Em troca de e-mails com minha amiga mineirinha Bárbara, do Iuperj, ela contou que assistiu a um documentário que explicava que todas as partes da vaca que não tinham valor comercial iam para a salsicha. No momento em que disseram que entre essas partes estava o focinho, ela achou melhor mudar de canal. Pois adivinhem o que comi às cinco horas: focinho de vaca, é claro! Afinal, em minhas últimas compras de supermercado trouxe diferentes tipos de salsichas e me esqueci de comprar várias outras comidas, como narrei no Kapitel LV. E tinha comprado a mostarda mais forte que vi no mercado. Exagerei na dose, ardeu a boca toda! Terei que moderar na próxima vez que comer focinho, digo, salsicha.

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