Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Kapitel XLV – O Drama de um Mudo

Hoje fui à aula de alemão, em que sempre fico “boiando”. O nível é da turma mais avançado do que o meu e o professor é bastante desorganizado e pouco metódico. Dizem que ele é muito bom, mas está claro para mim que não para quem sabe pouco e precisa de mais do que uma revisão. Eu tentava entender o significado de umas seis preposições e, de repente, apareceram outras quinze! Assim, fica muito difícil.

Ao menos, hoje me sentei ao lado de um albanês gente-fina, Dritan, que me esclareceu algumas coisas. Dritan adora o futebol brasileiro, é claro, apesar de não conhecê-lo tão bem assim. Faz faculdade na Universidade de Frankfurt, acho que em Economia, e fez um intercâmbio na Inglaterra, onde aprendeu todo o inglês que sabe falar. Aparentemente, ele fala melhor em alemão do que em inglês, mas é com esse inglês que me explica o que não entendo.

Depois da aula de segunda-feira, conversei bastante com ele, mas hoje falei mais com outros alunos, e acabei almoçando com o italiano Lorenzo e mais um brasileiro, Gabriel. Ambos fazem intercâmbio de graduação em Direito na universidade. Gabriel é um cara legal, mas tem o grave defeito de ser são-paulino, daqueles que acham que o São Paulo não foi campeão brasileiro no ano passado porque foi roubado e que defendem que o Sport Recife é o campeão brasileiro de 1987. Fazer o quê, não é? Lorenzo, apesar de italiano, não liga para o calcio e prefere o rúgbi. A propósito, almoçamos no bandejão Mensa de Westend, novamente paguei como estudante, mais barato (ver Kapitel XLII), e comi frango pela primeira vez desde que cheguei aqui. Quem lê regularmente estes Contos, sabe que venho me entupindo de carne suína quase diariamente.

Depois do almoço, fui para o campus de Bockenheim, onde acontece a aula de política brasileira em que colaboro com o Jens. Nesta turma, há uma aluna que começou a estudar português há pouco tempo e quer que eu a ajude a praticar. Em troca, quer me ajudar no alemão. Vamos ver no que dá. De fato, não são tantas as oportunidades de treinar alemão, por incrível que pareça. Tirando pedidos que faço em restaurantes, bares, mercados e padarias, sobra pouco. Hoje até conversei consideravelmente em alemão com Lorenzo e Gabriel, mas isso nem sempre ocorre.

Eu achava que, por morar com três alemães, eu praticaria bastante, pois eles me ajudariam, corrigindo meus erros e me ensinando palavras. A história foi bem diferente. As duas alemãs que moram aqui pouco falam comigo. Não vão muito além de bom-dia e tchau. No início, uma nunca falava comigo – acho até que evitava me encontrar no corredor – e a outra parecia que poderia, futuramente, conversar um pouco mais. Pois elas inverteram os papéis: a que nunca falava já estabelece uma conversação mínima (sem sinais de que se aproximará mais) e a outra, que tinha dado indícios de poder vir a quebrar o gelo, já nem se despede mais de mim.

Resta um morador de meu apartamento, o sempre mencionado Manfred. Como eu já disse várias vezes aqui, ele é um ótimo sujeito. Mas a questão é que, como contei no Kapitel XIII, ele viveu por dezesseis anos em Los Angeles. Então, prefere conversar comigo em inglês, sem paciência para o meu alemão rudimentar.

Confesso um certo receio de voltar ao Brasil em outubro sabendo menos alemão do que quando cheguei. Isso depois de morar na cidade natal de Goethe! Sempre penso que tenho que estudar alemão em casa, mas até agora só fiz isso uma vez. Bem, ainda tenho cinco meses para soltar o verbo...

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