Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


sábado, 1 de maio de 2010

Kapitel XLII – O Porco Congelado e a Ajuda dos Santos

Ontem foi mais um dia tranqüilo. Acordei cedo para a aula de alemão (em que “boiei” um pouco menos do que das vezes anteriores), e depois almocei com o brasileiro João Guilherme, o turco Korcan e o italiano Lorenzo no bandejão Mensa do campus de Westend. É interessante que, diferentemente do campus de Bockenheim, lá há mesas do Mensa do lado de fora, em uma bela área arborizada.

Ainda mais interessante foi o fato de, diferentemente de todas as vezes em que comi no Mensa de Bockenheim, ontem a moça do caixa não me perguntou se eu era estudante (não tenho a carteira de estudante da universidade, de modo que tenho que pagar no bandejão quase o dobro do preço dos alunos de lá) e simplesmente me cobrou mais barato, apenas 2,80 euros pelo prato de croquetinhos de carne picantes com macarrão, o que foi uma pechincha! Depois, fui a Bockenheim, onde ajudei Jens na aula de Política e Sociedade no Brasil.

Hoje, no entanto, não é um dia típico. É dia do trabalho. Dia, portanto, de todas as lojas e restaurantes estarem fechados. Dia de comer alimentos comprados nos dias anteriores. Dia de mandar ver no Schnitzel (filezão de porco empanado) que eu tinha me esperando no congelador. Mas como prepará-lo?

Sou um cara enrolado para as coisas triviais e práticas do dia-a-dia. Sou atrapalhado mesmo em português, imagine em alemão! Compreender as instruções da caixa não estava nada fácil. Eu não tinha entendido nem mesmo a palavra “congelado” (“tiefgekühlten”); ficava complicado saber como proceder. Confundi também a palavra “Pfanne” (panela) com “Pfand”, que é o termo que se refere ao preço extra cobrado pelas latas e garrafas e que é recuperado após sua devolução. A sorte é que, para sobreviver nestas terras germânicas, tenho um panteão de santos que me socorrem em momentos difíceis. Um deles certamente é meu companheiro de apartamento Manfred.

Graças a São Manfred pude entender que aquelas instruções se referiam a três diferentes formas de preparar o Schnitzel. Após optar pela mais prática e saudável delas, pude enfim ter meu primeiro almoço em casa, já que até então tinha feito todas as refeições (fora os sanduíches) na rua. Na falta de acompanhamentos, usei minha criatividade em uma esquisita combinação de Schnitzel com pão e tomate seco. Estava gostosa, apesar de inusitada.

Mas Manfred não é o único santo salvador, é claro. Para resolver a questão do passaporte e abrir a conta do banco, por exemplo, foi fundamental a intervenção de São Jens (ver Kapitel XL), que ainda tinha me auxiliado na busca de um apartamento para morar aqui. São Mario, por sua vez, deu dicas sobre como trocar latas e garrafas (Pfand) e sobre a locomoção aqui no bairro. Santa Berenice (a Berê) me explicou sobre como identificar para onde se pode ir com as passagens curtas no metrô, bem menos caras do que as comuns.

Para ter um telefone celular aqui, então, houve uma verdadeira força-tarefa, uma convenção celestial em que São Jens foi comigo comprar o chip, São Mario me acompanhou na compra do aparelho e São Manfred me ajudou a habilitá-lo! Assim, vou seguindo adiante nestas terras. Como canta o grande menestrel, andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar.

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