Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


domingo, 9 de maio de 2010

Kapitel XLVIII – Os Persas, o Siamês e a Boêmia

A internet voltou! Depois de quase revirar o computador pelo avesso, descobri que era apenas um problema de senha. Descobri isso com a ajuda de São Manfred, é claro. No dia em que caiu a conexão aqui de casa, tentei de várias maneiras reconectar. Em algumas delas, precisei digitar novamente a senha, e aí coloquei a senha errada. A que eu tinha anotada era a do antigo apartamento (sobre os antigos apartamentos, ver Kapitel II), muito parecida com a deste, só que um pouco mais longa. Até tinha tentado ligar para o Mario para perguntar se eu estava com a senha certa, mas, como sabem, ainda por cima estou sem crédito no celular. Perguntei para uma das minhas colegas de apartamento – a que tem falado comigo (ver Kapitel XLV) – se a senha estava certa, e ela, provavelmente por não ter necessitado digitar a senha nunca mais desde que se mudou para cá, respondeu equivocadamente que estava. Daí toda a confusão.

O importante é que agora tudo voltou ao normal. Passei, então, um bom tempo no computador. Aproveitei para publicar dois Kapitel que eu havia escrito, o XLVI e o XLVII, decidindo-me por manter em ambos o texto original, produzido quando eu ainda estava sem conexão à internet. Quando acabei tudo o que tinha para fazer, já passava muito das quatro horas e eu estava roxo de fome.

Resolvi explorar uma parte da cidade que ainda não conhecia, perto da minha casa mas para o lado aonde nunca vou. Saí sem mapa e a esmo, o que significa que depois demoraria algum tempo para encontrar o caminho de volta. A poucos quarteirões de distância fui surpreendido por uma manifestação pacífica, em forma de passeata, acompanhada de modo amistoso por vários policiais. O curioso da passeata é que era formada por iranianos contrários ao governo de Ahmadinejad. Seus cartazes – os que tinham inscrições em alemão ou inglês, pois em persa fica difícil entender – traziam palavras em favor do socialismo, chamando a embaixada persa de centro terrorista e exigindo a libertação de presos políticos. Entendi que houve gritos de ordem em favor do Curdistão também. Filmei uma parte da mobilização.

Depois de acompanhar um pouco a passeata, eu me desviei e encontrei um restaurante tailandês. O nome era Mr. Thai-Express, e logo entendi por quê. O foco do restaurante é o de vender para as pessoas levarem para casa (“zum Mitnehemen”, no termo alemão, em oposição ao “zum hier essen”, “para comer aqui”). O lugar era completamente fechado (nem uma janelinha aberta sequer) e o cozinheiro trabalhava ali, na frente dos clientes. Ou seja, era um desagradável cheiro de comida por todo lado, com aquele vapor impregnando todos os cabelos e casacos que havia pela frente. Pelo menos minhas apimentadas tiras de filé com curry tailandês e leite de coco estavam boas.

Saindo de lá ainda dei uma longa volta, inicialmente por curiosidade e, depois, em busca do caminho de casa. Passaram-se bem umas duas horas de passeio, no mínimo. Parte dele foi realizada margeando o principal cemitério da cidade, realmente grande. Vi também alguns parques que eu nem conhecia.

Cheguei em casa e liguei pelo Skype para o telefone da minha avó, na casa de quem estava toda a família reunida pelo dia das mães. Com a minha eu já havia conversado mais cedo. Faltava falar com minha “bimãe” (vovó) e com minha “vice-
mãe” (dinda). Depois, como minha água acabou, não tive outra opção senão a de abrir uma ótima cerveja preta tcheca, Březňák Schwarzbier, que comprei no supermercado. Foi um dia bastante internacional, do Irã à República Tcheca, passando pela Tailândia. Coisas de uma cidade cosmopolita.


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