Pois resolvi que hoje era um bom dia para conhecer o museu. Aproveitei e convidei Manfred para ir. Ele começou com seu tradicional pão-durismo, mas, quando viu que a entrada era baratinha, resolveu aceitar. Antes ele queria renovar uma tal carteirinha-mamata que dá descontos em vários centros culturais. Fomos até o lugar, que é ao lado do antigo trabalho de Manfred, onde Mario trabalha. Até subimos para fazer uma visita.
No lugar onde se faz a carteirinha, há também uma loja sem fins lucrativos que vende brinquedos usados a preço baixo para quem não pode comprar presentes novos para os filhos. Muito baixo mesmo! Havia bonequinhos de pelúcia por 20 e 30 cêntimos. Manfred até brincou que o de trinta cêntimos devia ser de muito melhor qualidade que o de vinte.
De qualquer forma, a viagem foi em vão. A máquina para fazer a carteirinha não estava lá. Manfred tinha duas opções: preencher um formulário e esperar duzentos anos até o documento ficar pronto, ou ir a outro lugar, onde estava a máquina, para fazê-lo. Duas opções que ele logo descartou, e fomos ao museu assim mesmo.
Lá, aceitaram tanto a carteira velha dele como minha carteirinha brasileira de estudante, sem problemas. Foram apenas dois euros para cada, para visitar um museu bastante interessante, onde permanecemos um bom tempo. Trata-se de um museu particularmente voltado para a história da cidade. No primeiro andar há moedas antigas, e pinturas e esculturas de séculos passados, especialmente o XV e o XVI. A maioria delas tem motivos religiosos, claro, e sempre que o artista é frankfurtiano isso é destacado.
Aliás, apesar de até determinada época os judeus terem que viver em guetos na cidade, depois disso houve um longo período de aceitação até o mais recente e famoso retrocesso. De 1800 a 1900 a população de Frankfurt se multiplicou por dez, e os judeus, que eram cerca de um décimo dos habitantes, aumentaram na mesma proporção. Era, proporcionalmente, a maior população judia da Alemanha. Outra vítima dos nazistas bastante destacada foi a comunidade cigana. Além disso, nem sempre a vida dos estrangeiros foi tranqüila antes do nazismo, e se mencionavam as condições precárias de habitação dos trabalhadores vindos do sul da Europa.
Havia no museu a reprodução de diferentes mapas da cidade, mostrando como Frankfurt cresceu, inclusive incorporando regiões próximas. O lugar onde vivo, por exemplo, estava bem fora dos limites originais de Frankfurt. Passeando-se pela cidade podem-se ver algumas torres, que eram pontos de observação que demarcavam onde ficavam os antigos muros. Comprei a réplica de um desses mapas lá por dois euros e cinqüenta.
A última coisa que vimos foi uma interessante mostra temporária de fotografias tiradas pelos próprios soldados alemães na segunda guerra. Além do dia-a-dia das tropas, foi retratado tudo o que lhes chamou atenção nos países invadidos.
Duas fotos me impressionaram particularmente: em uma, os invasores alemães debochavam dos poloneses diante de mulheres polacas que olhavam para eles com cara de zangadas; em outra, uma pessoa local atravessa um rio para que o exército alemão se certifique de que não há minas ali. A Guerra é uma coisa nojenta!
Os curadores observaram que àquela época eles estacam pouco habituados a sair do país, e variava como eles reagiam ao que viam: enquanto no Ocidente em geral adotavam uma postura de turistas, em outras partes destacavam o que lhes parecia exótico e inferior, como os russos, a população do norte da África e os soldados negros que lutaram pela França.
Antes disso, vi uma série de objetos das mais variadas épocas, mostrando fatos históricos e hábitos do dia-a-dia. Algo que não se vê em outros museus são pinturas simpáticas ao nazismo. Mais bizarro foi ver que foram publicados livros infantis com apologia ao regime, e até uma árvore de natal com suásticas em vez de bolas havia lá.
Entre os cartazes, havia de tudo um pouco: propaganda nazista, comercial da Lufthansa, anúncio de eventos musicais dos anos quarenta, protesto de esquerda contra a grande coalizão dos social-democratas com os democrata-cristãos após a Segunda Guerra. Roupas, louças, e até banheiros de outras épocas marcavam presença, juntamente com a réplica de uma coroa de Carlos Magno e uma camisa do Eintracht Frankfurt, usada pelo ganês Yeboah. Nela, no lugar da propaganda, havia os dizeres: “meu amigo é estrangeiro”. Um recado importante nessas idas e vindas desta cidade cosmopolita.
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