Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


domingo, 25 de julho de 2010

Kapitel XCIX – Ali Babá e o Espectro

Vivemos em uma sociedade capitalista. Já era para, após três décadas, eu ter me acostumado a isso, talvez, mas ainda me choco (a propósito, ver Kapitel LXXVII). Quando eu ia de trem a Berlim (ver Kapitel XCV), uma senhora com cara de rabugenta – e, pelo visto, com jeito de rabugenta também – resmungou com uma família que estava sentada próxima a mim que aquele era o seu assento. Causou-nos estranheza, afinal, ninguém tinha dito para eles nada de numeração de lugares. A mesma situação tinha ocorrido comigo na França. Quase todo mundo no trem se senta em qualquer lugar vago mas, de vez em quando, aparece alguém – sempre com cara de poucos amigos – reivindicando ser o seu assento e expulsando quem estava viajando tranqüilamente.

A família começou a buscar o número de seus assentos, e nada de encontrá-los. Tentei ajudar mas também não achei. Aliás, não encontrei número nem mesmo na minha própria passagem. Foi então que o pai da família perguntou ao controlador e ouviu a seguinte resposta: os assentos, a princípio, não têm número, mas como pode ser que o trem encha e não tenha lugar para todo mundo, é possível reservar um lugar pagando-se apenas cinco euros a mais. Não é fantástico?! Eles vendem a garantia para o passageiro de que ele não viajará em pé, como se o preço da viagem fosse uma bagatela.

Marx disse que um espectro rondava a Europa, o espectro do comunismo. Pois hoje, o espectro do capitalismo, em meio a todas as escandalosas crises, está totalmente assentado. Aqui, os bancos sempre mandaram. E trabalham muito mal, como tenho deixado claro nestes Contos Fantásticos quando trato do drama da minha bolsa – que, acredito, está a poucos dias de se resolver (ver, por exemplo, Kapitel LXXVIII e XCIV). Por exemplo, já requisitei três vezes que o Postbank me devolvesse quinze euros que foram descontados da minha conta corrente devido ao envio de um segundo cartão; afinal, não perdi o primeiro, ele simplesmente jamais chegou à minha residência por culpa do correio.

Todas as vezes eles dizem que me devolverão a grana, mas minha conta segue com quinze euros negativos. Sim, porque, por uma série de trapalhadas, até hoje não entrou dinheiro na minha conta corrente alemã. Na última vez em que fui ao banco reclamar, disse exatamente isto: que eu desconfiava que não tinham devolvido o meu dinheiro porque minha conta estava vazia, pois se estivesse cheia da nota eles teriam muito mais respeito por mim.

Outra coisa que me impressionou quando cheguei aqui foi a questão dos conglome-rados. Cedo percebi que não poderia continuar comprando no pequeno mercadinho dos turcos, pois era mais caro, e me rendi ao supermercado Rewe (ver Kapitel XXX).

Pois logo conheci também quais eram os produtos baratos. E há um atalho: se a marca é “Ja!”, o produto é barato. Dessa marca são as garrafas de litro e meio de água mineral que sempre compro, a vinte cêntimos, contra cinqüenta ou mais das concorrentes. Os queijos, salames e outros frios (Würste) geralmente também são. Outro dia, olhei na geladeira e constatei que o suco de laranja de caixinha do Manfred também era Ja!.

Até aí, tudo mais ou menos coerente. Mas fiquei assustado quando fui comprar o papel higiênico da casa e vi que a marca mais em conta era... Ja!. Papel higiênico?! “Ja!” era! Não demorou muito para que eu visse à venda também guardanapos Ja! e, no caixa, na hora de pagar, isqueiros Ja!. Que Google ou Micro$oft que nada, o Ja! vai dominar o mundo!

4 comentários:

  1. Tudo começou na década de 80 com aquele cartomante latino que falava... "Ligue Já!"... HAHAHAHAHA!!!!

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  2. 8oD))) O sobrenome artístico do Walter era Mercado, afinal; não enganava ninguém, hehehe.

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  3. Esse Ja!, pelo visto, é equivalente ao Prix Gagnant ou ao Franprix, de Paris, do qual eu tanto falava e do qual acho que você deve lembrar...

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  4. É claro que eu lembro, Cattapa. Inxclusive vi o Franprix quando estive em Paris. Mas é uma rede de supermercados, não é? O Ja! é uma marca de produtos. E de produtos um tanto variados, como você pôde ler.

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