Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Kapitel XXX – O Líquido Precioso, o Pasto e as Tampas Coloridas

Ontem foi um domingo com cara de domingo. Fiquei em casa quase o dia inteiro. Enviei minha proposta de artigo para um congresso no Brasil e fiz algumas outras (poucas) coisas. Saí apenas para almoçar.

Era dia de Schnitzeltag no Cosi Cosi, o italiano aqui perto de casa (ver Kapitel XXIII). Lá tomei um suco de cereja (que eu não acho grande coisa, mas quis variar um pouco) e pedi um Zigeunerschnitzel, ou “Schnitzel cigano”. O Schnitzel é um ótimo filezão de porco empanado, muito consumido em Frankfurt. Zigeunersauce é o nome do molho “cigano”, que leva curry, páprica, tomate, cebola... muito bom, sehr gut. Pedi sem as batatas fritas e o garçom da voz rouca, que aperta a mãos dos clientes quando eles entram no restaurante, ofereceu pão no lugar. As duas torradinhas de pão de forma vieram bem a calhar com aquele molho condimentado.

Hoje foi dia de dar conta de algumas tarefas práticas pela manhã. Precisava trocar garrafas vazias (ver Kapitel XX), comprar mantimentos e conseguir um mapa decente da cidade (no primeiro dia comprei na estação de trem principal, por cinqüenta cêntimos, um que só cobre a parte central de Frankfurt e já está todo rasgado). Meu pão de forma Weltmeister Brot (com gergelim e outros grãozinhos) ainda agüenta uns dias, mas já não tinha mais nada para beber, meu queijo havia acabado e o siğir salam (que nada tem a ver com salame e é traduzido como Rindfleischwurst, ou salsicha de boi) que eu tinha comprado no mercadinho dos turcos já estava nos finalmentes.

Comprei um bom mapa, por sete euros, que não apenas cobre Frankfurt inteira como também todas as cidades vizinhas, como Offenbach (ver Kapitel XII), Mainz, Eschborn, Friedberg, Darmstadt, Wiesbaden, Bad Homburg, entre outras. Mas estupidamente me esqueci das garrafas. Tive, então, que voltar para casa, para sair novamente, sempre com meu mochilão de viagens. Ele tem assumido múltiplas utilidades aqui. Além de ter sido minha pesadíssima bagagem de mão na vinda para a Alemanha e de ser o que pretendo levar em minhas viagens pela Europa, eu o adotei como meu “carrinho de compras” para compras maiores de mercado e é o que utilizo para levar roupas para secar. A lavadora fica aqui em casa, no banheiro, mas o lugar para pendurar as roupas fica no subsolo do prédio, que é extremamente frio. Não me admira que as roupas custem a secar e que, mesmo secas, de tão geladas eu nunca tenha certeza se realmente não estão mais úmidas.

Mario e Manfred já me alertaram que estou fazendo um péssimo negócio comprando nas pequenas lojinhas do armênio e dos turcos (ver Kapitel XXV). De fato, eu pagava cinqüenta cêntimos em um litro de água mineral enquanto posso pagar dezenove em um litro e meio na megarrede de supermercados Rewe. Tive que me entregar ao sistema. Não consegui trocar minhas garrafas mas, com vinte e um euros, comprei bastante coisa.

Primeiramente, comprei dois pacotes de café! Sim, enfim poderei tomar em casa o líquido precioso! Sou formado em jornalismo e um estudioso da ciência política, e tanto jornalistas como cientistas sociais costumam se dopar diariamente com essa cheirosa bebida completamente entranhada de cafeína. Além disso, minha família é toda viciada em café e costumamos beber xícaras e mais xícaras todos os dias no Rio de Janeiro (sem açúcar, é claro). Enfim, tenho todos os motivos para comemorar o fato de poder dar fim à minha quase abstinência.

Além disso, comprei salame (este é salame mesmo, não é como os embutidos dos turcos que têm todos o enganoso nome de “salam”), queijos, água, suco de maçã e um pacote de Schnitzel congelado. Manfred já tinha me aconselhado a comprar uns congelados, pois saem pela metade do preço de uma refeição em um restaurante simples. Qualquer dia experimento esse Schnitzel; a caixa vem com dois filés.

Comprei três queijos diferentes (o café não é meu único vício): um camembert, um Deutscher Gouda (não sei se o alemão é muito diferente dos outros queijos gouda, mas, como estou na Alemanha, tenho que provar) e um estranhíssimo queijo verde! Era até mais caro que os outros que comprei, mas fiquei curiosíssimo. Não menos bizarro era o nome dele: Pasto Gouda. Acho que estou prestes a conhecer um outro sentido para a expressão “comer que nem um boi”.

Ao voltar das compras, fiz meu primeiro café aqui! Em seguida, Manfred me mostrou as lixeiras separadas para reciclagem aqui no prédio. Lixo comum vai para a de tampa preta, plásticos ou outros recipientes para a de tampa amarela, papéis para a de tampa verde. Como nem todos os alemães são tão certinhos como às vezes supomos (ver Kapitel VI), é claro que havia papelão na lixeira dos plásticos. Mas nós fizemos nossa parte.

Só não entendi por que nossas lixeiras ficam dentro do prédio enquanto há gente que têm lixeiras na esquina. Mas são lixeiras exclusivas para eles, as pessoas não podem usar! Manfred disse que é crime jogar lixo na lixeira dos outros, pois cada um paga uma taxa para o serviço dos garis de acordo com seu próprio volume de lixo. Só que acho um absurdo haver lixeiras no espaço público que não são para uso público. Manfred deu uma risadinha, olhou para mim com uma cara de “este brasileiro é maluco” e disse em tom de brincadeira: “isto pode ser estranho no Brasil, mas os alemães acham isto muito normal”. Tudo bem. Fazer o quê? Pelo menos fiz o meu prostesto!

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