Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


terça-feira, 18 de maio de 2010

Kapitel LIV – As Cartas Voadoras

Hoje chegaram duas cartas para mim, uma do banco e outra da universidade confirmando algo que eu já sabia, que eu tinha sido aceito como membro associado do seu centro internacional de pós-graduação em ciências sociais. Você deve estar se perguntando: “E daí? Qual é a importância disso, se todo mundo recebe cartas de bancos o tempo todo e se a mensagem da universidade não trazia nenhuma surpresa?” Pois esclareço: com estas, são apenas três as cartas que recebi até agora, enquanto sei de pelo menos outras quatro que deixaram de me entregar e jamais chegarão. Estão voando por aí, talvez com algum pombo-correio.

Desde que cheguei a Frankfurt tenho um problema crônico com as correspondências. Na Alemanha, os apartamentos não têm número. Não entendo o porquê, não dá tanto trabalho assim usar números nos apartamentos, seria uma medida tão simples. Esse costume pouco inteligente não facilita em nada a segurança de que as cartas chegarão. O remetente apenas coloca o número do prédio, e aí o carteiro procura na caixa postal do edifício o nome do destinatário. E se o nome não estiver lá? Aí, a carta volta, como já ocorreu comigo com duas cartas do banco, uma da universidade e uma que minha mãe me enviou registrada do Brasil.

A solução para evitar que a carta volte caso o nome não esteja lá é acrescentar na carta “C/O” (ou “care of”, “aos cuidados de”) e o sobrenome que está lá na caixa postal do seu apartamento (no meu caso, o de Mario e o de Manfred). Tudo muito prático, não? Alguém pergunta o seu endereço, e aí você não apenas diz o CEP, a rua e o número do prédio, mas também faz a ressalva de que é preciso acrescentar essa informação. Caso contrário, o carteiro, não muito preocupado com o destino das cartas, concluirá que você não mora lá. Foi isso o que os correios responderam para a universidade.

E se você preenche algum formulário com o seu endereço em alguma repartição? Aí, não haverá um espaço para acrescentar o “C/O” ao endereço e, provavelmente, todas as cartas que lhe enviarem de lá voltarão sempre. Tudo muito prático e inteligente. Eficientíssimo! E se houver mais de um apartamento com diferentes pessoas com o mesmo sobrenome? Aí, não sei, creio que os carteiros precisarão discutir com seus analistas toda sua perplexidade com essa possibilidade inimaginável em seu sistema tããão organizado. Além disso, a atendente do meu banco (que, ironicamente, é o Postbank, o banco dos correios!) disse que a correspondência bancária tinha que ir para uma caixa postal com o meu nome, não poderia ser colocado o “C/O”.

Eu havia colado na caixa postal um adesivo com o meu nome, para receber a carta registrada da minha mãe, que continha umas fotos de que eu precisava. Provavelmente, o carteiro veio antes e, então, não entregou a carta. Minha mãe nunca foi avisada disso pelo correio, apenas por mim. Portanto, não sei se a carta que ela escreveu foi deportada para a Turquia, se foi usada pelo carteiro para limpar a bunda, se foi dada por ele para o seu filho desenhar em cima... não sei, só sei que os correios alemães já me irritaram demais.

Essa carta não chegou e, para completar, Manfred, julgando que não haveria mais nenhuma correspondência para mim, tirou o adesivo com o meu nome. E foi assim que deixei de receber também duas cartas do banco (uma com o meu cartão!) e a primeira da universidade. Agora, colei novamente um adesivo gigante, bem maior que o anterior, com o meu nome completo, e todos estão avisados de que preciso que ele continue lá. Chegaram as duas cartas de hoje. Torçamos para que cheguem as próximas também...

Mario sempre defende que esse sistema não é uma estupidez. Diz que era mentira da funcionária do banco que não se pode colocar o C/O, e afirmou que, com isso, todas as cartas chegariam. Não é bem assim. O problema dos correios vai além da incompreensível não utilização de números nos apartamentos. E o fato de eu não ter recebido as cartas não pode ser creditado a uma culpa minha por não ter dito para as pessoas acrescentarem o C/O e por não haver, no momento, o meu nome na caixa postal.

A verdade é que todo mundo – ou ao menos muita gente – já deixou de receber correspondência alguma vez. Aconteceu com o Jens, com o Manfred... Não quatro cartas em apenas um mês, como ocorreu comigo, é claro, mas sim alguma em algum momento. Isso não ocorre no Brasil. Sim, os correios brasileiros são muitíssimo melhores que os alemães. E no Brasil os apartamentos têm números. Pois é... há menos cartas voadoras no Brasil. Além disso, lá, os carteiros precisam gastar parte do seu salário comprando papel higiênico.

3 comentários:

  1. tb deixei de receber um monte de coisas por conta desse sistema idiota. inclusive cartão do banco, que eu tinha solicitado buscar na agência justamente por causa desse problema. falha dupla: do banco de dinheiro e do banco de cartas. e o foda é que eles jamais vão admitir o quão estúpido é esse sistema...

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  2. O correio brasileiro é conhecido mundialmente como um dos mais eficientes que existe.
    Ao menos nisso somos primeiro mundo!

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