Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


domingo, 23 de maio de 2010

Kapitel LVIII – O Sol, a Casa, o Peru e Muitas Voltas

Hoje o sol apareceu de verdade! É claramente o dia mais quente desde que pus os pés em Frankfurt. Tanto que, neste momento em que escrevo, estou usando bermudas! Sim, bermudas! Curtas! Desde que cheguei sempre usei calça comprida.

Dia ensolarado é dia de se sair para a rua. Pelo menos na Europa, é, afinal, aqui sol quente não é uma banalidade de quase todos os dias como no Rio de Janeiro. E lá fui eu, cerca de três ou quatro da tarde, explorar áreas do meu bairro ainda pouco conhecidas por mim e arranjar um lugar para almoçar.

Como hoje eu pretendia viajar para alguma cidadezinha próxima mas meu fim-de-semana boêmio inviabilizou a programação turística, resolvi fazer algo intermediário entre isso e ficar em casa. Explico: Anne Frank, a judia que se celebrizou por, bem jovem, relatar em seu diário os horrores do Holocausto e cujos escritos se tornaram postumamente um best-seller, era frankfurtiana. Ela nasceu e morou em Frankfurt, até seus pais resolverem se mudar para a Holanda quando o Partido Nacional-Socialista subiu ao poder. E adivinhem em que bairro ela morava: Dornbush! O mesmo que eu. Então, meu plano era visitar suas duas antigas casas e comer no restaurante mais interessante que encontrasse pelo caminho.

Pesquisei no Google Mapas onde ficavam os endereços das duas casas e como eu deveria fazer para chegar lá. A mais próxima era muito simples de se ir, fica na rua Marbachweg 307.
A outra, na Ganghoferstraße 24, não era tão fácil, mas anotei num papel todas as possibilidades de percurso, de modo que não haveria de ter problema... E lá fui eu.

Logo encontrei a primeira casa, bem simples, e tirei fotos. Em um dia em que vi vários restaurantes fechados, havia uma pizzaria aberta exatamente em frente à antiga casa da família Frank. A Pizzeria Dick & Doof também servia massas, Schnitzel, saladas, frutos do mar e outros pratos. Pedi algo que eu ainda não tinha visto aqui na Alemanha: estrogonofe. No caso, estrogonofe de peru, chamado Geschnetzeltes Stroganoff. Não, esse palavrão “Geschnetzeltes” não significa peru, e sim “fatiado”. Sabia que era carne de peru porque, na explicação, dizia “Putengeschnetzeites”, e tudo o que começa com “Puten” é de peru. Ler cardápios em alemão é uma arte, não é mesmo?

Comi meu estrogonofe e parti para a outra casa, que ficava mais perto de outra estação de metrô, a Hügelstraße. Caminhei até lá e fui para o lado que achava que era o certo. Não era. Dei uma enorme volta, passei por lugares onde já tinha estado antes com Manfred mas aonde não saberia chegar sozinho (como a central mais próxima dos correios, por exemplo, onde há umas estátuas engraçadas na entrada), pedi informações.

A essa altura eu só queria voltar para a esquina da Eschersheimer Landstraße (a minha rua, que é por onde passa o metrô na superfície) e a Hügelstraße, para, então, tentar me reorientar. Chegando lá, enfim, pus a mão no bolso para ver minhas anotações de como chegar na tal da Ganghoferstraße. E quem disse que encontrei? Estúpido, perdi o papel!

De memória já estava evidente que eu não saberia como chegar. Atravessei a rua e fui até o ponto de ônibus, onde havia um grande mapa sinalizando onde eu estava. Mas nem com mapa encontrei o raio da ruazinha! Desisti. Outro dia pesquiso novamente no Google, anoto num papel, não o perco e, aí, conheço a segunda casa de Anne Frank.

Para voltar, fui até a estação de metrô e, coincidentemente, encontrei o Julian, o alemão que mencionei no Kapitel anterior. Ele até brincou, perguntando se eu só estava saindo da festa àquela hora. Afinal, aquela era justamente a estação de metrô mais próxima da casa do Filipe, onde o pessoal se encontrou na noite de ontem para hoje.

Enfim, valeu a pena o passeio. Mas bem que, na próxima encarnação, se isso existir, eu poderia vir com GPS, não é?

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