Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


sexta-feira, 30 de abril de 2010

Kapitel XLI – O Javali e o Corvo

Quinta-feira foi um dia estranhamente tranqüilo. Acordei cedo, comi um queijo genérico aparentado do brie e do camembert no café-da-manhã, estudei, almocei um döner kebap, peguei o metrô para a universidade, tive aula de política comparada, estudei mais um pouco, fui com o Jens tomar uma cerveja, voltei a pé, comprei mantimentos no mercado, tomei um sorvete de casquinha de limão, cheguei em casa, bebi um café e um suco de maçã e comi uns cogumelos recheados com queijo que eu tinha comprado na feira, que acontece em frente à minha janela às terças-feiras. Tudo correu muito misteriosamente dentro da normalidade.

No bar a que fui com o Jens, comi as tipicamente bávaras salsichinhas brancas (weiß Würstchen) com pão e mostarda doce (falei sobre elas no Kapitel VII) e bebi a boa cerveja de trigo Keiler, que tem como símbolo um javali. Já que não tenho nada trágico para lhes contar sobre esta quinta, aproveito a oportunidade para abordar um assunto que lembra um primo do javali, animal símbolo da Keiler: escatologia! Portanto, aviso àqueles de estômago mais sensível para pararem a leitura neste ponto.

A primeira coisa que chama a atenção é que, aqui, ninguém tem nenhum pudor de assoar o nariz, com vontade, em qualquer lugar. No meio da sala de aula, na rua, até no restaurante, pode-se ouvir uma verdadeira sinfonia. Ninguém disfarça, nem mesmo se estiver passando aquela gatinha por perto. Pelo que já vi antes de vir para cá, suspeito que seja uma coisa dos europeus em geral. É até um hábito mais saudável do que essa coisa dos brasileiros de ficar prendendo o catarro por achar feio assoar o nariz na frente dos outros; afinal, não colocar para fora pode até gerar sinusite. Digo isso com autoridade, afinal, já operei essa maldita duas vezes. Para mim, por mais que seja estranha, essa coisa de todo mundo assoar o nariz em qualquer lugar é até bastante confortável. É que nasci com um nariz imprestável, que está sempre entupido e respira precariamente. A única função que desempenha com desenvoltura é a de suporte para os óculos.

Seguindo com os temas asquerosos, acrescento outra curiosidade, para a qual me chamou a atenção meu amigo brasileiro Vítor. Muitos vasos sanitários aqui têm uma parte adicional de porcelana, tipo um platô ou uma plataforma (não é o caso das privadas daqui de casa, mas de fato elas eram assim lá no albergue). Ele disse que elas são assim porque, antigamente, havia a preocupação de se ver como estavam as fezes, para conferir se a pessoa estava saudável. Nada contra medidas preventivas em relação à saúde, mas de fato isso é meio nojento, não é?

De todo modo, nada disso foi o que me incomodou na Alemanha. O que efetivamente me deixa desconfortável é o fato de todo mundo, em qualquer estabelecimento, mexer no dinheiro e depois manipular a comida. Nada de luva ou de lavar as mãos, e tudo agravado pelo crônico pouco uso de guardanapos (ver Kapitel XXXI). Não estou falando de vendedores ambulantes – até porque não os encontro por aqui – mas dos restaurantes, bares e cantinas. Mão na cédula, mão no pão; mão na moeda, mão na casquinha de sorvete. Isso é realmente nojento. Dinheiro é uma das coisas mais sujas que existem, e não se trata de um julgamento moral (também válido, é claro). Tento pensar pelo lado positivo: bem... não passei mal até agora, devo estar fortalecendo meus anticorpos...

Por falar em sujeira, hoje vi uma cena engraçada. Um corvo estava jogando no chão todo o lixo das lixeiras da universidade à procura de comida. Achei graça porque não era eu quem iria limpar, é claro. Mas dei risadas vendo aquele bichinho porcalhão... Só faltava ele mexer em dinheiro enquanto comia.

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