Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Kapitel LXXXV – Andanças Occitanas

Hoje conheci a Universidade Toulouse 2 Le Mirail, sede do congresso do qual vim para participar. Mas antes fui a um restaurante marroquino perto do albergue, almoçar couscous com carneiro, grão-de-bico e lingüiça merguez. Depois, sim, fui pegar o metrô. Como sairia mais barato, resolvi comprar logo um bilhete com dez viagens de uma vez. Só que, bizarramente, só se pode comprar o bilhete na máquina, e esta só aceita moedas e cartão. Como meu cartão não é de banco francês, precisava de mais de doze euros em moedas. Absurdo! Isso me lembrou a surreal situação dos ônibus de Buenos Aires, onde as pessoas acumulam moedas porque é o único meio para comprar a passagem, e todos os vendedores das lojas se recusam a trocar as notas porque sabem que as moedas são, lá, um artigo de luxo. Pois em Toulouse não é tão diferente. Consegui trocar algumas no Carrefour, mas se recusaram a trocar em três restaurantes, e todas as pessoas a quem perguntei na rua disseram que não tinham.

Sugeriram que eu fosse ao correio, onde bastaria eu colocar a nota numa máquina e ela a trocaria por moedas. Achei aquilo muito estranho, mas eu já estava há mais de quinze minutos tentando conseguir moedas e não custava tentar. Perguntei ao funcionário se havia um jeito de trocar uma nota de cinco por moedas, e ele me respondeu: “Normalmente não, mas excepcionalmente você pode trocar naquela máquina”. E, de fato, a máquina trocou o dinheiro. Como a garçonete havia dado exatamente essa dica, é óbvio que a situação nada tinha de excepcional. Mas eles tentam desencorajar todos os passageiros da cidade a irem lá trocar dinheiro.

O trem do metrô é estranha-mente estreito, e as pessoas ficam muito apertadas, mas o transporte funciona bem. São três linhas, sendo que a A e a B cobrem as áreas mais importantes. As estações têm uma separação transparente entre o trem e o local de espera. Quando o trem chega, abrem-se as portas tanto dele como as dessa separação. Muito interessante é que, a cada estação do metrô, o nome dela é anunciado primeiro em francês e, em seguida, em occitano. Soa meio italiano, e é bem engraçado. Aliás, muitas ruas (não sei se todas) também têm seus nomes escritos nas duas línguas. Há um movimento pela revitalização do occitano, língua da região de Languedoc, e a bandeira usada pelos ativistas occitanos é igual à de Toulouse, capital local.

Cheguei à universidade e foi uma luta descobrir onde, no campus, seria o evento. Na biblioteca me informaram mas, quando cheguei ao local, não havia ninguém. É que a versão do cronograma do congresso que está nos panfletos impressos e a que estava no site são diferentes. E adivinha qual está certa? Não era a do site, em que eu tinha me baseado, é claro! Em vez dos documentários que seriam exibidos às duas da tarde, houve uma discussão sobre a integração intelectual entre Europa e América Latina às 2h30. E nada de falarem sobre o credenciamento ou de fornecerem o material. Dei um tempo e me mandei. Definitivamente, aquela reunião que em nada me interessava, não me privaria de ver os jogos de hoje da Copa. Na manhã desta quarta, volto lá para – espero! – fazer meu credenciamento.

Aproveitei para passear por Toulouse, o que eu ainda não tinha feito. São bem bonitas as áreas do Capitole (onde funciona a prefeitura), do rio La Garone, e a basílica de St-Sernin, que fica próxima ao albergue. Quando vi que o jogo entre Paraguai e Japão tinha começado, entrei em um pub, onde assisti ao primeiro tempo bebendo uma cerveja francesa Kronenbourg. No Kapitel anterior eu contei sobre os estereótipos sobre os franceses que estavam se confirmando; pois eis o de número quatro: o garçom fedia muito!

Depois, para poder conhecer mais da cidade, pus novamente o pé na rua, e fiquei ansioso porque demorei a encontrar um lugar onde eu pudesse ver o segundo tempo. Já se passava metade dele quando encontrei um vazio restaurante de kebab. Sem nenhuma fome, comprei um sorvete e vi até o final do tempo regulamentar. Tive a infeliz ideia de dar mais uma volta antes da prorrogação. Andei muito e não conseguia achar qualquer lugar transmitindo o jogo durante o tempo extra. Quando, enfim, eu encontrei, já estava na disputa de pênaltis. Ali mesmo, na rua, acompanhei, satisfeito, a classificação paraguaia.

Continuei o passeio, comi um baguete com presunto e emental e vi que já estava se aproximando da hora do outro jogo. Encontrei um restaurante próximo do albergue cheio de portugueses, com camisas e bandeiras. Era lá mesmo que eu ia torcer pros lusos contra os espanhóis. Infelizmente, não deu. A seleção portuguesa jogou bem, esteve melhor em grande parte da partida, mas justamente quando era pressionada a Espanha fez um gol. Isso desestabilizou os portugueses, que pioraram bastante, e tudo degringolou quando o árbitro caiu na simulação de falta dos espanhóis e expulsou injustamente um jogador de Portugal. Voltei resmungando, xingando a mãe do árbitro. Mas nem toda a ajuda do mundo será suficiente quando (se) a Espanha tiver pela frente o Brasil, a Alemanha ou a Argentina.

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