É incrível notar como a personalidade das pessoas já se forma bem cedo. Francisca, a primogênita, por exemplo, é mais introspectiva, tímida, atenta, pensa rápido e, apesar de as irmãs também gostarem de livros e de música, ela é, das três, a que parece ler mais e ter maior atração pelos instrumentos musicais. Paula, por sua vez, é mais extrovertida, gosta de tirar fotos e de ter a atenção de todos, é mais falante e emotiva.
No dia seguinte, novo passeio, desta vez em um belo bosque na cidade. O que não foi nada belo foi o ataque de uma abelha à minha amiga Ale. Coisas da natureza. À noite, fomos todos a um restaurante espanhol, onde comemos pollo almendrado. Para beber, fui de Herrnbräu Hefe Weissbier Dunkel.
Na quarta-feira, foi a vez de conhecer Nuremberg. Cheguei à estação , olhei a lista dos trens e vi que haveria um em uns quinze minutos. Desci à linha férrea e ali, no vão cinco, estranhamente aparecia que o trem sairia bem mais tarde e iria a Frankfurt e não a Nuremberg. Voltei à bilheteria e descobri algo bizarro: aquele trem para Nuremberg que aparecia na lista que eu tinha lido, na verdade, não existia. Ou seja: nem todos os trens que aparecem na lista existem! Simplesmente esdrúxulo!
O atendente gentilmente imprimiu para mim a lista dos próximos trens para Nuremberg: um sairia uma hora antes do outro mas chegaria apenas cinco minutos antes. Não foi difícil, portanto, escolher em qual dos dois eu iria. Aproveitei para dar uma volta no centro de Regensburg – pelo menos na área em torno da estação de trem Hauptbahnhof –, aonde até então eu só tinha ido de passagem.
Fiquei deslumbrado quando cheguei ao centro antigo (Altstadt) de Nuremberg. É incrível que tenham reconstruído tudo aquilo depois da Segunda Guerra (na Wikipedia dizem que 90% do centro histórico foi destruído pelos bombardeios ingleses e estadunidenses em apenas uma hora!). Sua igreja de St. Lorenz, seu castelo imperial, sua muralha, seus chafarizes e estátuas, seus edifícios antigos, a área próxima ao rio Pegnitz... é tudo lindo demais.
Também me chamou a atenção uma lojinha em que se vendiam produtos alusivos a uma campanha para separar a região Francônia do estado da Baviera. Na hora de voltar, tive dificuldade para encontrar a estação de trem e fiquei preocupado porque não me lembrava exatamente a hora do trem de volta: se era 19h20, 19h30 ou 19h40. Cheguei às 19h30 em ponto e vi no letreiro que sairia às 19h36. Ufa! Mas minha sorte não se repetiria.
Quando saí da estação de trem de Regensburg, fui ao ponto de ônibus e vi que o que me levaria de volta à casa de Alejandra estava parado. Corri até ele, mas o safado do motorista fechou a porta quando eu estava chegando. Ainda fiz o movimento para abrir a porta, mas ela já estava travada e ele se mandou. Graças à má-vontade do motorista, tive que esperar meia hora até o ônibus seguinte! Como se não bastasse, meu lendário senso de direção defeitoso me impediu de aprender a chegar na casa da Ale, de modo que, após saltar no ponto mais próximo de lá, fiquei totalmente perdido. Procurei por todos os lados e, ao fim, foi preciso que Burkard me buscasse. Ridículo, não é?
Saímos para almoçar, na quinta-feira, em Adlesberg, um lugar no município de Pettendorf, vizinho de Regensburg, onde fabricam sua própria cerveja. O lugar é bonito, tem um monastério do século XIII, muito verde, flores, e um Biergarten, local onde se pode tomar cerveja ao ar livre. Essa era nossa ideia, até começar a ventar forte e levantar poeira.
Fomos, então, almoçar do lado de dentro. Comemos veado (sem piadinhas desneces- sárias, por favor) com Spätzle, que é uma massa típica da Alemanha (sobre ela, ver Kapitel VII). Bebi logo dois canecões da cerveja local: uma Adlesberger “Palmator” dunkles Starkbier e uma Adlesberger Jubiläumsdunkel, ambas escuras, mas a primeira um pouco mais forte. Tudo muito bom!
Depois, fiquei no centro da cidade, para andar por todas as suas ruelas e conhecê-lo. É uma cidade bonita, em que o que me impressionou, mais do que belíssimas construções como as de Nuremberg, foi a integração das edificações antigas com a natureza. A grande quantidade de verde e o rio Danúbio dão um toque especial a Regensburg.
A sexta-feira era dia de voltar. Eu teria o aniversário da Lara para ir em Frankfurt. Mas, antes, era hora de comemorar outro aniversário, de uma das três princesinhas: Paula. Cantamos parabéns e comemos bolo de café-da-manhã. Desta vez, nada de cerveja!