Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Kapitel VII - Os Três Porquinhos e a Maçã

Os alemães comem muita carne de porco, sabem fazê-la e seus suínos têm qualidade. Logo, os porquinhos se tronaram centrais em minha alimentação em Frankfurt.

Na primeira semana, no dia em que conheci o rio Main, até então ensolarado (o dia, naturalmente, não o rio), mal eu atravessei a ponte para ir ao bairro de Sachsen- hausen e despencou uma bruta chuva gelada de vento. Faminto, logo me abriguei no ótimo restaurante Gasthaus zum Eisernen Steg. Lá bebi um bom e ainda desconhecido chope Schlappeseppel Kellerbier e comi um saboroso joelho de porco com chucrute e molho de cerveja escura. Só que uma das poucas palavras que eu conhecia da língua germânica antes de estudar alemão era Eisbein, nome da iguaria joelho de porco. Mas o meu prato se chamava Scheinehaxen. Pô, como vou conseguir aprender esse idioma assim?! O Jens depois me explicou que, hoje em dia, é difícil encontrar Eisbein nos restaurantes. Ambos os pratos são preparados com a mesma parte do porco, mas de modo diferente. O Eisbein, que normalmente é o que encontramos nos restaurantes alemães do Brasil, é defumado, e o Scheinehaxen não é.

A verdade, no entanto, é que o que mais comi aqui foram as lingüiças e salsichas, ambas chamadas de Wurst. É inevitável. São boas e você encontra em tudo quanto é lugar, desde de restaurantes até barraquinhas de praça. Já provei a salsicha Bratwurst, a salsicha branca Bockwurst, a lingüiça picante Türingerwurst, a salsichinha branca (weiß würstchen). Esta, típica da Bavária e tradicionalmente acompanhada de mostarda doce, requer uma técnica para se comer: é preciso cortá-la ao comprido e tirar a pele que ela tem por fora (sem comentários de mau gosto sobre circuncisão, por favor). A sorte é que eu estava almoçando com o Jens nesse dia e ele me explicou. Senão, é claro que eu ia ficar, em vão, tentando cortar errado a salsicha (transversalmente, para ser tecnicamente mais explícito), ela ia pular do prato, e por aí vai...

Há ainda um terceiro porquinho: o Schnitzel! Comi um quando fui com a brasileira-frankfurtiana Berê ao restaurante Wagner, em Sachsenhausen. Dizem que lá eles costumam tratar mal os clientes; bem... se o fazem, certamente são amadores em comparação com o Bar Lagoa e outros bares cariocas. Mas voltando ao Scnhitzel, trata-se de um ótimo filezão de carne de porco empanado. Recomendo! Tanto eu como Berê tomamos Apfelwein. Bem, está na hora de mudar de parágrafo, para falar sobre a maçã.

Apfelwein é o vinho de maçã e Sachsen- hausen parece ser o lugar mais tradicional para tomá-lo na cidade. O vinho é tomado diluído em água com gás (aliás, pelo que eu entendi, tirando a água da torneira, toda água aqui é com gás!). Isso significa que o tal vinho de maçã é muito mais leve, por exemplo, do que as cervejas, ao menos do que as daqui, bem mais fortes do que as aguadas que, em geral, temos no Brasil. Naquele dia, tomei três copos grandes de Apfelwein. Não senti nada, não sei quantos eu seria capaz de beber. Um dia faço a experiência e conto para vocês.

Dizer que o Apfelwein é popular em Frankfurt é chover no molhado: tudo de maçã é popular por aqui. Não há mercado em que não se encontre Apfelschorle (ou Apfelsaftschorle), que é um refresco de maçã, de suco misturado a água... com gás, naturalmente. Mais gostoso é o suco de maçã puro, Apfelsaft. Já comprei também suco de outra fruta, Holunderbeere, que é umas das trocentas berries que existem por aqui e que, em português, damos nomes bizarros como arando e mirtilo (cranberry e blueberry, respectivamente). Após breve pesquisa, descobri que o nome da Holunderbeere em inglês é elderberry e que – pasmem! – ela existe no Rio Grande do Sul, recebendo no Brasil o nome de sabugueiro ou sabugueirinho. Bem, não achei o suco muito bom não, mas valeu para experimentar. Apesar de a Wikipédia dizer que suas folhas, sementes e tudo mais são tóxicos!

Nem só de carne de porco e maçã são feitas minhas experimentações na culinária germânica. Dia 25, almocei uma massa típica do sudoeste da Alemanha, Spätzle, que depois de pesquisar vim a saber que é feita à base de ovo. Achei bem boa, é uma espécie de espaguete grosso mas curto, como se tivesse sido picado, servida meio gratinada (era Käsespätzle, ou seja, com queijo) junto com um molho com gosto de vinho. Vem servida junto com salada. E, naturalmente, não há queijo ralado. Aliás, nem mesmo quando pedi penne com molho de cogumelos em outro restaurante trouxeram queijo parmesão. Minhas raízes italianas me deixam um tanto incomodado com a ausência de queijo ralado na massa, mas gostei do Spätzle assim mesmo.

4 comentários:

  1. Aí Guilherme, se acabando nas salsichas!!! Você nunca nos enganou... hahahahaha!!!
    Preciso provar este apfelwein,deve ser bom.
    Um grande abraço, meu amigo!!!
    P.S.: Não "trema" na Linguiça!!! Olha a nova gramática... rsss

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  2. O Apfelwein (todos os substantivos começam com letra maiúscula em alemão) não é grande coisa, mas você não está fazendo nada, ele está lá, não é ruim, é levinho, e aí você vai benbendo.
    Adotei a nova gramática com restrições. Sou radicalmente contrário à eliminação do trema e, por isso, é a única concessão que faço para mim mesmo quanto a seguir com a velha gramática.
    Abração, amigo!

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  3. Macarrão sem queijo é bizarro mesmo!
    Olha, sinto que as experiências gastronômicas e etílicas serão a melhor parte deste diário! Não deixe de nos informar!

    Abraços e tudo bem bom Guilherme!

    Rodrigo.

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  4. Pode deixar que informarei sobre tudo, cara, hahaha.
    Abração e obrigado.

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