Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


quinta-feira, 8 de abril de 2010

Kapitel XX - A Bicicleta Verde

Hoje, voltando da universidade, ao passar em frente à “biopadaria”, recebi como amostra grátis o tal “biopão” de que falei no capítulo anterior (comido com o ainda não identificado Hindi Salam e o queijo fundido). Um pouquinho duro, um cheirinho bom, um gosto levemente inferior ao do pão comum... valeu pela experiência, especialmente pelo fato de ela ter tido custo zero.

Mas o “estilo verde” aqui na Alemanha não está presente apenas na alimentação “bio” e na incrível estrutura para reciclagem de garrafas e latas (todo mercado – pelo menos todos os grandes – tem uma máquina de raio laser que analisa se aquele produto é ou não vendido lá; se for, recolhe o recipiente e dá uma determinada quantidade de cêntimos de desconto na compra seguinte). O “estilo verde” também pode ser percebido no uso das bicicletas, extremamente abundantes aqui em Frankfurt.

A cidade não tem uma extensão tão grande, de modo que se pode cruzá-la de bicicleta tranqüilamente, sem precisar pegar o transporte público. É verdade que há um monte de carros (aliás, carrões: Mercedes-Benz, Audi, BMW, Porsche, Maserati...), mas podem-se ver idosos, senhoras indo à feira, famílias inteiras, todos pedalando. Há um espaço na calçada das principais ruas que é para os pedestres, e outro destinado aos ciclistas. Em outras ruas, é no asfalto a área destinada a eles. Há algumas regras complexas. E esse é justamente o motivo para eu não planejar comprar uma bicicleta, o que já me sugeriram e, de fato, a princípio parece uma ótima opção. É que eu já tenho um dos piores sensos de direção da Via Láctea, não estou adaptado a essas regras de trânsito em duas rodas, não sei ao certo como ir de um bairro para o outro (haja mapa e tentativa-e-erro!). Como posso ficar rodando de bicicleta por aí? Muito perigoso...

Mas a coisa aqui é séria. Berê me contou que quase foi reprovada na prova de habilitação para dirigir (carro) porque o examinador achou que ela não tinha virado o suficiente a cabeça para olhar se vinha algum ciclista de trás. Mas ela tinha virado quase 170 graus! Quase fica com torcicolo! E, aqui, quem anda de bicicleta alcoolizado ganha multa e pontos na carteira de habilitação. No belo Römerberg, onde desde o século XV fica o Römer (sede do governo da cidade), há até umas bicicletas-táxi (como o “Fahrradtaxi” de uma lição de alemão que Frau Ännchen ensinou para mim e meus coleguinhas). Elas não são efetivamente táxis, só dão volta ali por perto, mas têm um motorista, digo, um ciclista pedalando para o passageiro.

Mudando completamente de assunto, hoje soube que o governo alemão aprovou minha permanência no país por mais de seis meses. Boa notícia? Depende. É que eles enviaram a aprovação para o consulado da Alemanha no Rio. Foi lá que eu dei entrada na papelada, mas não pude esperar o visto porque não ficou pronto a tempo da data da minha viagem. Os funcionários de lá me disseram que o processo continuaria aqui em Frankfurt, sem problema. Só que o Ausländerbehörde (departamento que lida com os estrangeiros) daqui enviou a aprovação para lá e disse que só pode carimbar meu passaporte depois que o consulado no Rio de Janeiro autorizar. Sem carimbo, após três meses eu deixaria de ser encarado como turista e passaria a ser um imigrante ilegal. Vou pedir ao consulado para entrar em contato com o Ausländerbehörde. Só que estou morrendo de medo de eles não fazerem isso e acabar acontecendo comigo o que já ocorreu com minhas amigas Julia e Lore: já no Brasil, ambas tiveram que voltar para seus países para, então, com os papéis necessários, retornarem legalmente ao Rio. Se eu tiver que fazer isso, estou frito! A passagem de avião é cara demais. Não por acaso só tinha vindo para a Europa uma única vez em minha vida. Se pelo menos desse para ir de bicicleta...

3 comentários:

  1. Vai dar tudo certo, Guilherme, relaxa! Torceremos daqui!

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  2. Obrigado, Rodrigo, espero que sim, pois os problemas só se acumulam... Veja o próximo capítulo. 8o(

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  3. jajaja bienvenido a la gran legión de ilegales!! Tranquilo, vas a sobrevivir!!
    Besooos

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