Hoje, voltando da universidade, ao passar em frente à “biopadaria”, recebi como amostra grátis o tal “biopão” de que falei no capítulo anterior (comido com o ainda não identificado Hindi Salam e o queijo fundido). Um pouquinho duro, um cheirinho bom, um gosto levemente inferior ao do pão comum... valeu pela experiência, especialmente pelo fato de ela ter tido custo zero.
Mas o “estilo verde” aqui na Alemanha não está presente apenas na alimentação “bio” e na incrível estrutura para reciclagem de garrafas e latas (todo mercado – pelo menos todos os grandes – tem uma máquina de raio laser que analisa se aquele produto é ou não vendido lá; se for, recolhe o recipiente e dá uma determinada quantidade de cêntimos de desconto na compra seguinte). O “estilo verde” também pode ser percebido no uso das bicicletas, extremamente abundantes aqui em Frankfurt.
A cidade não tem uma extensão tão grande, de modo que se pode cruzá-la de bicicleta tranqüilamente, sem precisar pegar o transporte público. É verdade que há um monte de carros (aliás, carrões: Mercedes-Benz, Audi, BMW, Porsche, Maserati...), mas podem-se ver idosos, senhoras indo à feira, famílias inteiras, todos pedalando. Há um espaço na calçada das principais ruas que é para os pedestres, e outro destinado aos ciclistas. Em outras ruas, é no asfalto a área destinada a eles. Há algumas regras complexas. E esse é justamente o motivo para eu não planejar comprar uma bicicleta, o que já me sugeriram e, de fato, a princípio parece uma ótima opção. É que eu já tenho um dos piores sensos de direção da Via Láctea, não estou adaptado a essas regras de trânsito em duas rodas, não sei ao certo como ir de um bairro para o outro (haja mapa e tentativa-e-erro!). Como posso ficar rodando de bicicleta por aí? Muito perigoso...
Mas a coisa aqui é séria. Berê me contou que quase foi reprovada na prova de habilitação para dirigir (carro) porque o examinador achou que ela não tinha virado o suficiente a cabeça para olhar se vinha algum ciclista de trás. Mas ela tinha virado quase 170 graus! Quase fica com torcicolo! E, aqui, quem anda de bicicleta alcoolizado ganha multa e pontos na carteira de habilitação. No belo Römerberg, onde desde o século XV fica o Römer (sede do governo da cidade), há até umas bicicletas-táxi (como o “Fahrradtaxi” de uma lição de alemão que Frau Ännchen ensinou para mim e meus coleguinhas). Elas não são efetivamente táxis, só dão volta ali por perto, mas têm um motorista, digo, um ciclista pedalando para o passageiro.
Mudando completamente de assunto, hoje soube que o governo alemão aprovou minha permanência no país por mais de seis meses. Boa notícia? Depende. É que eles enviaram a aprovação para o consulado da Alemanha no Rio. Foi lá que eu dei entrada na papelada, mas não pude esperar o visto porque não ficou pronto a tempo da data da minha viagem. Os funcionários de lá me disseram que o processo continuaria aqui em Frankfurt, sem problema. Só que o Ausländerbehörde (departamento que lida com os estrangeiros) daqui enviou a aprovação para lá e disse que só pode carimbar meu passaporte depois que o consulado no Rio de Janeiro autorizar. Sem carimbo, após três meses eu deixaria de ser encarado como turista e passaria a ser um imigrante ilegal. Vou pedir ao consulado para entrar em contato com o Ausländerbehörde. Só que estou morrendo de medo de eles não fazerem isso e acabar acontecendo comigo o que já ocorreu com minhas amigas Julia e Lore: já no Brasil, ambas tiveram que voltar para seus países para, então, com os papéis necessários, retornarem legalmente ao Rio. Se eu tiver que fazer isso, estou frito! A passagem de avião é cara demais. Não por acaso só tinha vindo para a Europa uma única vez em minha vida. Se pelo menos desse para ir de bicicleta...
Vai dar tudo certo, Guilherme, relaxa! Torceremos daqui!
ResponderExcluirObrigado, Rodrigo, espero que sim, pois os problemas só se acumulam... Veja o próximo capítulo. 8o(
ResponderExcluirjajaja bienvenido a la gran legión de ilegales!! Tranquilo, vas a sobrevivir!!
ResponderExcluirBesooos