Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


domingo, 18 de abril de 2010

Kapitel XXIX – Saindo da Toca

Como alguns de vocês devem ter percebido e lamentado – e outros comemorado –, não publiquei nenhum Kapitel ontem. É que, após fins-de-semana de intenso trabalho em casa, neste sábado eu, após estudar um pouco de manhã, saí à tarde para ficar o dia inteiro fora. A programação estava intensa.

Em um dia ensolarado e quente (sim, agradavelmente quente!), fui a pé até a universidade, para me encontrar com Jens, que trabalhava em pleno sábado. Pela primeira vez contei o tempo que levo para fazer esse percurso: mesmo andando rápido (com uma brevíssima pausa para comprar uma casquinha sabor trufa), deu 54 minutos. De lá, saímos para um pub lá no bairro de Bockenheim, onde bebemos cada um três cervejas Licher e assistimos à rodada da tarde da Bundesliga, o campeonato alemão. O jogo principal era Leverkusen contra Stuttgart, mas eles mostravam longos momentos de outras partidas também, como o jogo entre Werder Bremen e Wolfsburg, e a luta entre Nürnberg e Freiburg para escapar do rebaixamento.

Eu provei um estranhíssimo queijo frankfurtiano chamado Handkäse, que tem esse nome porque é feito com as mãos. Ele tem um aspecto que parece ser o de qualquer outra coisa, menos queijo. É meio translúcido, parece um plástico. Pedi o tradicional Handkäse mit Musik, cuja tradução é “queijo de mão com música”. O nome bizarro se aplica quando o tal queijo é servido com o prato cheio de óleo e umas cebolas em cima. Além disso, ainda vinham manteiga e pão. Não é ruim, também não é muito bom, valeu para provar outra especialidade local. Mas, entre as iguarias típicas e populares em Frankfurt, definitivamente o Grünensosse e o Schnitzel são muito melhores!

De lá, fui me encontrar com o brasileiro Vítor em Sacksenhausen, em frente ao rio Main. Lá conheci o pernambucano Filipe, também muito legal. Fui a pé, apesar de já estar calibrado. No caminho até encontrá-los, senti uma crescentemente desesperadora vontade de ir ao banheiro. Não se tomam três copos de cerveja impunemente, afinal. Custei a achar um lugar onde pudesse resolver o problema hidráulico. Acabei solucionando a questão em um restaurante, onde, um pouco para não ficar chato e um pouco para segurar a onda do álcool, pedi um café. Não veio muito bom, mas eles serviram leite também (como observei no final do Kapitel XVIII, muitos alemães não são chegados em café puro). Misturei os dois, afinal, como sempre digo, o café-com-leite é a melhor solução para café ruim. Antes disso, enquanto eu seguia em direção ao rio, também passei em uma lojinha turca para comprar um bolinho (de cujo nome depois não consegui me lembrar de jeito nenhum) para forrar o estômago.

Assim como um monte de alemães e turistas, eu, Vítor e Filipe ficamos sentados na grama em frente ao rio, bebendo cerveja ou vinho de maçã, e jogando conversa fora. Nós três tomamos um chope Beck’s, que é a primeira cerveja que bebo aqui que nem é muito boa, nem é ruim. É como se estivesse tomando uma cerveja brasileira das melhorezinhas.

Filipe faz doutorado em filosofia em Frankfurt. Ele e Vítor assistem juntos a uma aula com o famoso Axel Honneth, que já soube que é um cara tranqüilão, que conversa informalmente enquanto fuma seu cachimbão. Havia, à noite, uma festa de um amigo deles do curso do Honneth, e foi para lá que nós fomos, depois de algumas andanças de metrô e trem (até então só tinha andado a pé, mas acabei comprando o bilhete diário por conta disso). Era difícil encontrar o lugar!

O anfitrião era um finlandês da parte da Finlândia que fala sueco, de modo que é nativamente bilíngüe. Mora com ele um espanhol, e ambos fazem mestrado em Frankfurt e a aula com Axel Honnneth. Na festa ainda havia gente de outros cantos além da Alemanha, como Estados Unidos e Romênia. O pessoal todo me pareceu bem legal. Brasileiros, no entanto, éramos apenas os três, e eu era, certamente, aquele com alemão mais rudimentar. Ainda tomei duas cervejas Altenmünster Brauer Bier antes de pegar uma carona de volta para casa.

Três Licher, uma Beck’s no copo grande, duas Altenmünser... não dava para escrever nenhum Kapitel ontem, né?

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