Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


terça-feira, 13 de abril de 2010

Kapitel XXV – O Limão Quente e os Franceses

Tenho um artigo para terminar, para um congresso sobre a América Latina que acontecerá em Toulouse. Acredito que sejam três coisas aquelas que, em nosso imaginário, mais caracterizam os franceses: a baguete (transportada debaixo do sovaco), o perfume (às vezes usado para disfarçar certa falta de banho) e a irritação com os ingleses. Pois esta última se manifesta de modo muito curioso nesse congresso.

Para começar, há três idiomas em que os textos podem ser escritos: francês, espanhol e português. Não se pode escrever em inglês! Não é incrível? Em um congresso internacional! Como se não bastasse, ainda recebi um e-mail com as instruções sobre o formato que devem ter os artigos, que diz explicitamente: “as referências são feitas em notas de rodapé e não no formato anglo-saxão (ou seja, entre parênteses)”. Não acho prático colocar tudo em notas de rodapé, mas eles não aceitam o modelo vigente na maior parte do mundo da ciência política, simplesmente porque este formato mais moderno foi inaugurado nas publicações de língua inglesa.

O e-mail tinha, no entanto, um lembrete muito pior do que o aviso sobre como deveríamos nos referir aos autores citados: o prazo para entrega é o dia 15 de abril! Sim, contando com hoje, só tenho três dias para terminar o texto. Por isso passei todo o fim-de-semana em casa, trabalhando. Pelo mesmo motivo, hoje não fui à universidade.

Saí de casa apenas para almoçar, e aproveitei para comprar água, na mesma loja em que quase sempre compro bebidas. Aliás, não é verdade, como eu disse no Kapitel VII, que aqui na Alemanha toda água engarrafada é com gás; já bebi algumas sem (aliás, infelizmente, pois prefiro a gasosa). Hoje, o vendedor percebeu que meu alemão era mais do que capenga e perguntou: “América?”. Eu respondi que era brasileiro, e ele teve a mesma reação que têm todas as pessoas quando informo minha nacionalidade: abrem um sorriso e dizem, com um ar afetuoso: “Ah... é do Brasil...”. Ele, por sua vez, contou que era da Armênia. Agora, já sei que compro comida com os turcos (ver Kapitel XIX) e bebida com os armênios. Frankfurt é mesmo uma cidade cosmopolita (ver Kapitel I).

Antes de comprar a água, no entanto, fui almoçar. Afinal, não havia por que ficar carregando uma garrafa para lá e para cá. Acabei indo no Cosi Cosi, o mesmo restaurante italiano e pizzaria mencionado nos Kapitel XVIII e XXIII. Das outras vezes, quem me atendeu foi um garçom com uma voz roupa, típica dos filmes de mafiosos. Hoje não, foi outro garçom, que logo, devido à minha quase mudez, ofereceu um cardápio em inglês. Recusei, é claro! Afinal, estou tentando entender os nomes em alemão. Se bem que, como eu pedi um tagliatelle ao gorgonzola, o cardápio poderia estar até em esloveno que não faria qualquer diferença.

Para beber, pedi uma limonada, orgulhoso por ter entendido do que se tratava ao ler o cardápio. Qual não foi minha surpresa quando ela chegou... quente! Com direito a biscoitinho e tudo, como se eu tivesse pedido um café! Sou obrigado, então, a homenagear os franceses de quem falei no começo deste Kapitel, voltando a parafrasear Asterix às avessas: são loucos esses germanos...

3 comentários:

  1. E que o céu não caia sobre nossas cabeças, por Belenos!

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  2. Que os franceses implicam com os anglófonos, concordo.........mas num congresso da América Latina, tá certo aceitar as línguas faladas na América Latina, ora bolas!

    Limonada quente é bom?

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  3. Está certíssimo aceitarem publicações em português e espanhol, Cattapa, mas o bizarro é não aceitarem textos em inglês em um congresso internacional!

    Ah, e limonada quente é bom sim, principalmente se servida com biscoitinhos, hehehe.

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