Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


quarta-feira, 28 de abril de 2010

Kapitel XXXIX – Futebol em Dois Tempos

Na segunda-feira, ao sair da universidade, fui às compras. Na verdade, fui alimentar uma velha mania: camisas de futebol. Tinha visto que na loja do principal time local, o Eintracht Frankfurt, sua camisa estava na promoção. Como o time tem um extremo bom gosto – a camisa é vermelha e preta! – e sua cidade é aquela onde estou morando, eu já queria comprá-la desde os primeiros dias em que cheguei, e só estava esperando uma oportunidade mais economicamente viável. Além disso, vi que a loja vendia também, pelo mesmo preço, uma camisa retrô da Alemanha da Copa de 1954, que eu desejava desde o Mundial passado! Comprei ambas, e paguei ao todo sessenta euros. Não foi nenhuma pechincha, mas foi um ótimo preço para camisas não-piratas.

Esta terça-feira também terminaria em futebol, mas antes eu tinha uma questão para (tentar) resolver. Cheguei à universidade e logo fui com o Jens resolver um dos meus problemas pendentes: a conta em um banco local. Fomos ao Postbank, o banco do correio, e, após preencher tudo, eis que a atendente nos informa que preciso do visto para abrir a conta. Como o Jens disse, isso não faz sentido; que eles exijam o visto para fornecer um empréstimo, tudo bem, mas para guardar meu dinheiro?! Ou seja, mais um problema que segue pendente. O bicho-papão do visto terá que ser resolvido antes (para saber mais sobre ele, ver os Kapitel XX, XXI e XXVI).

Saí para almoçar no Mensa com Jens, Marion, Florian e Fabian, e o cardápio estava como nos seus melhores dias: comi um bolo de carne recheado com queijo, acompanhado de fusilli e molho de tomate, com mousse de chocolate de sobremesa. Depois, saí para tirar foto para o visto (se soubesse a enrolação que seria, teria trazido do Brasil a foto que eu tinha sobrando). Foram mais 12 euros perdidos por mim por causa de burocracia. Antes de voltar para a universidade, dei uma volta ali na rua, a Leipziger Straße, e passei numa padaria, onde comprei um café e um docinho chamado Florentiner, uma espécie de pé-de-moleque com chocolate que ainda leva casca de laranja na receita.

Estudei um pouco na universidade e voltei para casa. Tinha que colocar roupa para lavar (antes de ter que começar a repetir meias sujas) e, principal- mente, que ir ao mercado comprar café, o líquido precioso (para entender a importância disso, leia o Kapitel XXX)! Resolvido isso, vesti meu manto sagrado (é claro que trouxe para a Alemanha uma camisa do Flamengo) e saí novamente, para me encontrar com Fabian e Florian em um bar perto da universidade, onde veríamos a semifinal europeia entre Bayern de Munique e Olympique Lyonnais.

Cheguei atrasado e o bar estava lotado. Tanto que pouco falei com o Fabian, que estava mais perto do telão, em meio a vários outros torcedores do Bayern de Munique, como ele. Fiquei mais para perto da entrada, com Florian, que torceu pela equipe bávara mas gosta mesmo é de um pequeno time da sua cidade natal e do Borussia Dortmund. Lá também estava Emmanouil, um grego da minha turma de Política Comparada. Ele reconheceu a camisa do Mengão. O Fabian disse que ele torcia pelo Bayern, mas perguntei qual era o time dele na Grécia: Panathinaikos, Olympiakos, AEK? Ele respondeu: “Só existe um time na Grécia, o Panathinaikos”. Desprezar os rivais, afinal, é uma tradição universal do futebol.

Foi legal ver o jogo, apesar da falta de lugares, que me obrigou a ficar um bom tempo em pé. As pessoas estavam animadas, inclusive um torcedor do Schalke 04, que, infiltrado, começou a cantar no bar no meio da partida uma canção do seu time, que nada tinha a ver com a história. O time bávaro jogou muito melhor e, mesmo fora de casa, goleou por 3 a 0, com três gols do mesmo jogador, Olic. Se fosse no Brasil, poderia pedir a música no Fantástico.

Eu tomei dois copões da cerveja de trigo Schöfferhofer, a primeira clara e a segunda escura, totalizando um litro. No intervalo do jogo, fui ao banheiro e dei aquela desidratada no joelho. Mas ainda faltava meio litro de cerveja para excretar... Peguei o metrô e é claro que, quando faltavam poucas estações, minha bexiga começou a manifestar insatisfação. A vontade, obviamente, ia aumentando em progressão geométrica. Felizmente, o final desta história foi feliz: abri a porta de casa, corri para o banheiro, levantei a tábua, abri o zíper e GOOOOOL!

Nenhum comentário:

Postar um comentário