Um brasileiro que fala um alemão macarrônico chega a Frankfurt sem saber nem mesmo onde vai morar... Aqui narro minhas aventuras nesta temporada germânica: lugares interessantes, enrascadas em que me meto, esquisitices que percebo a cada dia. O nome do blog é uma analogia aos irmãos Grimm, alemães que compilaram muitas dezenas de contos de fada tradicionais, como Branca de Neve, João e Maria, Rapunzel, a Gata Borralheira, o Músico Maravilhoso, Chapeuzinho Vermelho, e a Bela Adormecida (mais detalhes em Vorstellung).

Centenas de fotos disponíveis em Ilustrações.


sábado, 24 de abril de 2010

Kapitel XXXV – Dois Lados da Sala de Aula, Dois Campi e Duas Macarronadas

Sexta-feira acordei cedo, antes das 8h, pois era dia da minha primeira aula de alemão. Era no campus novo, em Westend, um bairro grande, por onde passam algumas estações de metrô. A mais próxima do campus era apenas duas depois da minha, que é Dornbusch. Normalmente, eu faria esse percurso a pé (vou freqüentemente a pé ao outro campus, o de Bockenheim, que é mais distante), mas de manhã as coisas são mais difíceis: o tempo passa mais rápido e eu faço tudo mais devagar. Comprei, então, uma passagem curta de metrô (1,50 euro) e saltei na estação Holzhausastraße, que fica bem perto da universidade.

Não cheguei a passear pelos jardins do campus, mas achei bonito o prédio, que é dos anos 1920. Lá dentro, no entanto, tive dificuldades de encontrar a sala. O número tem um setor e um andar. Precisava ir à sala 4.301, mas acabei aparecendo na 3.401... Pedi informações e, por fim, cheguei exatamente às 9 horas na sala certa. Muita gente chegou depois disso e a sala, pequena, ficou completamente lotada, com muitas pessoas sentadas no fundo, apoiando os cadernos no colo por não haver mesa para todos os presentes.

Pessoas de todas as partes do mundo estavam presentes para assistir ao curso de Grammatik und Wortschatz (gramática e vocabulário). Ao meu lado se sentou, por exemplo, um sírio. Soube que havia também dois brasileiros: o pernambucano João Guilherme, que está fazendo um intercâmbio de graduação, e a mineira Márcia, que morava no Rio e faz mestrado em teatro lá.

A aula foi bizarra. Claramente o nível dos alunos era mais avançado que o meu. O professor às vezes parecia explicar e perguntar para os alunos coisas que eu já sabia, como se fossem algo difícil, mas falava usando termos que eu não entendia. Ou seja, por vezes a explicação era mais difícil para mim do que o que era explicado. Não sei se havia outros tão perdidos quanto eu. Se havia, estavam tão mudos quanto eu. Alguns alunos eram participativos, e me deixava um pouco ansioso quando muitos riam de piadinhas que o professor fazia mas eu não entendia bulhufas.

Piorava muito a situação o fato de, em vez de escrever em letra de forma ou com uma boa caligrafia, o professor usar um garrancho que bem poderia ser da escrita árabe. Tudo bem, logo percebi que aquilo que parecia um “E” era, na verdade, um “A”, que o “G” era aquela cobrinha esquisita... Mas em muitos casos, simplesmente, eu não conseguia entender o que estava escrito (não o sentido das palavras usadas, mas pior, a forma delas). É claro que não ajudava em nada o fato de ele apagar o giz do quadro negro com uma esponja encharcada, e de escrever por cima da parte molhada, às vezes sobre uma área suja de pó e com resquícios do que ele havia escrito antes.

A aula foi massacrante para mim. Já comecei a olhar o relógio quando ainda faltava meia hora para o final, ou seja, um terço da duração. Fiquei exausto depois daquilo. O Jens olhou a apostila e não gostou muito, acha que eu deveria ir para outro curso. Considerou tudo muito estranho, demasiadamente específico, e difícil além da conta. A princípio, tentarei mais uma vez na segunda-feira.

Depois, fui ao outro campus, o de Bockenheim, onde à tarde eu auxiliaria o Jens na aula de Política e Sociedade no Brasil. Almoçamos no bandejão Mensa eu, Jens, Florian, Bertram e os também professores Marion Reiser e Jürgen. Parece que as opções básicas do Mensa pioraram para mim nas últimas semanas. Entre peixe ou batata, fui pagar mais caro num prato de massa, um ravióli de queijo com molho de brócolis.

A aula foi legal. Havia algo entre 25 e 30 alunos. Jens deu explicações em alemão e eu fiz vários acréscimos em inglês. Os alunos parecem ter gostado, várias vezes sorriam em sinal de aprovação. Esta seção foi bem histórica, e os textos que passamos para eles lerem tratavam da colonização, do Império, da República Velha, do Estado Novo, da Era Vargas... No final, os alunos fizeram o de sempre, deram cascudinhos na mesa. É uma forma de aplaudirem menos barulhenta do que bater palmas. Acho simpático, vi isso em todas as aulas que freqüentei, como professor ou aluno.

Depois da aula, conversei com Jens sobre meu projeto e sobre o período sanduíche aqui em Frankfurt e, em seguida, fomos nos encontrar com a mulher dele, Suzane, no restaurante Albatros, ali próximo. Suzane é muito simpática, todos conversamos e rimos muito. Ela bebeu uma Erdinger sem álcool, eu e Jens fizemos nosso pedido tradicional no lugar: caneca grande de cerveja Lohrer. Comemos também espaguete ao pesto, enquanto Suzane pediu uma pasta de queijo Litauer.

O dia foi cansativo. Muitas aulas entrecortadas por pratos de massa. Exausto, voltei de metrô. No mundo da lua, passei direto pela estação na conexão com a outra linha, depois quase peguei o trem para o sentido errado... mas após várias confusões causadas pelo extremo estado de distração em que me encontrava, cheguei em casa. São e salvo. Mais salvo do que são, talvez...

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