Havia duas grandes mesas cheias de gente e uma menor onde se sentava um senhor e sua mãe anciã, algum tempo depois substituídos por uma senhora e sua progenitora. Na maior de todas as mesas, suspeito que se tratava de uma confraternização pós-primeira comunhão. Um menino vestido de pingüim, com coletinho preto, terno preto, camisa branca, ostentava um enorme crucifixo (quase maior que ele) pendurado no pescoço, onde estava escrito “ich Bin der Weg” (“eu sou o caminho”, em português). Além dele, havia também uma garotinha endiabrada, fantasiada de “E o vento levou”, que não parava quieta: pulava, falava, derrubava guardanapo, puxava a cadeira da irmãzinha do pingüim...
Hoje era Schnitzeltag! Vários restaurantes têm, em um ou dois dias da semana, um Schnitzeltag. Nesse dia, em vez de uma única opção de Schnitzel no cardápio, há mais de vinte. É bem verdade que só variava o molho, pois todos vinham com salada e batatas fritas, que, por um francesismo, são chamadas de “Pommes frites” em vez de Kartofeln (sobre batatas, ver o Kapitel XVII). O Schnitzel, abordado no Kapitel VII, é um grande filezão de porco empanado, popularíssimo por estas bandas. Pedi um com molho curry, sem batatas fritas.
Olhei as cervejas do cardápio e bateu aquele temor: só conheço duas delas... como experimentar uma nova se corro o risco de ela ser uma cerveja local? Lembrei-me, no entanto, que Jens me explicou que a péssima qualidade de quase todas as cervejas do estado onde se encontra Frankfurt (ver Kapitel XI) não é uma regra que se aplique àquelas feitas de trigo, apenas às de cevada. Olhei para o lado e vi que, entre os sentados à mesa do pingüinzinho, havia um homem bebendo em um inconfundível copão para cervejas de trigo. Perguntei ao garçom qual era – era a Waizenbier – e pedi uma. A dele era a clara, para mim veio a escura, mas tudo bem, gosto muito de cervejas dunkel.
Como o restaurante estava cheio, eu já imaginava que demoraria. O nível da cerveja no meu copo ia diminuindo e nada de chegar o prato. Pedir uma segunda era algo que eu nem cogitava, pois havia um texto acadêmico para ser escrito. Quando faltavam apenas uns dois goles, chegou meu Schnitzel. É claro que ele veio com as batatas fritas. O restaurante estava cheio demais para meu prato vir diferente dos outros.
Estamos torcendo por você, meu editor!
ResponderExcluirHehehe. Valeu, Charles. Como se pode ver, o espírito xisquestônico não morre jamais! Abraço!
ResponderExcluirO X marcou época não apenas como veículo de comunicação implacável e popular, mas também como grande escrete futebolístico. Temos que marcar um jogo Cachimbo x Amigos do Zidane.
ResponderExcluirHahahahaha! Afinal, nunca perdemos por mais de 22 gols, né? Ficamos devendo essa pra galera... ;oD
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